O dia em que inauguraram o anfiteatro entrou para os anais do Castelo das Águias. Foi no solstício do inverno, ao fim do segundo ano de fundação da Escola de Artes Mágicas, e a primeira peça apresentada foi uma criação de Cyprien de Pwilrie. Guedésio, o velho avarento, foi vivido por Donovan, a maga poderosa por Marla; as crianças arrancaram aplausos em seu entreato como duendes, e Elina ficou nos bastidores com Cyprien, ajudando-o a soprar as falas esquecidas. Além da peça, houve também um ritual, e tudo terminou com uma festa, à qual compareceu um visitante trazido ao Castelo por Thalia. Era Shanion de Ardost, um experiente Mestre de Sagas, que começou suas aulas dois ou três dias após o solstício e dirigiu todas as peças até deixar a Escola, anos depois, para se casar com a jovem escolhida para ele pela família. Então veio Anna de Bryke, e o anfiteatro voltou a se encher de risos e brincadeiras, como acontecera durante a breve estadia de Cyprien.
O saltimbanco não ficou por muito tempo mais em Vrindavahn. Tomas e sua família insistiram que o fizesse, assim como os aprendizes, especialmente a menina que ele chamava de Pardalzinho; mas Cyprien tomara uma decisão, e não era de seu feitio voltar atrás. Ainda passou um quarto de lua ensinando malabarismo, mas sua intenção era apenas ganhar mais algum dinheiro, e com isso pagar uma passagem de barco até Pwilrie. Então, quando ficou claro que iria mesmo embora, Hector organizou um jantar de despedida, e foi quando Theoddor e Cyprien se encontraram pela última vez. Não houve confidências, como na ocasião anterior, mas os dois riram juntos e ergueram vários brindes ao longo da noite.
Quando ficaram meio altos, foram até lá fora, onde se demoraram tomando um pouco de ar fresco. Sobre o que conversaram, se é que o fizeram depois de todo aquele vinho, Theoddor não contou em seu diário, apenas lamentou o fato de ter bebido demais e dado pouca atenção ao amigo que estava de partida. Também observou que o jovem estava mais calado que de costume, e que fitou durante um longo tempo o cata-vento que girava sobre o telhado. Quanto ao próprio Cyprien, não tinha como manter um diário, mas suas lembranças dessa noite ficaram para sempre misturadas às de sua chegada em Vrindavahn, com a dor da rejeição ainda recente e a pulseira de tinta azul. Esta, agora, estava apagada, como grande parte da raiva e da tristeza que trouxera de Madrath, e muito disso se devia a Theoddor e seu Castelo das Águias; mas na verdade tinha sido ali, admirando a obra singela de Hector, que ele pensara pela primeira vez em regressar a Pwilrie.
Voltar para o Povo Alto, vivenciar as lutas cotidianas ao lado de seus amigos. Usar sua arte em favor deles, e -- sim, montar um cata-vento bem colorido no alto de sua casa no Labirinto.
Quando os ventos da mudança soprassem, ele já estaria lá.
Imagem: Cyprien retratado por Angela Takagui.
Parte 1
Parte 15
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Espero que tenham curtido esta história do Cyprien!
Querem saber o que foi feito dele uns anos depois? Cliquem
aqui!
E até a próxima - que não irá demorar!