sexta-feira, 15 de abril de 2011
Rydel e a Filosofia Odravas
Rydel
Como se pode deduzir, Rydel de Bergenan acabou ficando bem mais tempo do que pretendia na Escola de Artes Mágicas, onde se tornou o mestre de Ciências da Terra para o Primeiro Círculo. E foi uma excelente aquisição, pois, embora tão jovial quanto os aprendizes, ninguém no Castelo conhece melhor as águias, a floresta e a natureza em geral.
Rydel é brincalhão e espontâneo, às vezes impulsivo. Quando se trata de defender a natureza ou seus amigos, não mede consequências. Uma de suas características mais marcantes é a simplicidade – nos modos, nos trajes, na fala e em tudo o mais. Esse é um traço comum aos seguidores da filosofia de Odravas, um Mago da Alma que, 300 anos atrás, preconizava o abandono das cidades e o retorno a uma vida frugal.
Da terra, junto à terra...
Membro da antiga Casa Ametista, Odravas estudou Magia com mestres da Escola de Riverast, à qual, no entanto, nunca esteve diretamente ligado. Segundo seus biógrafos, o interesse por uma vida mais simples começou a partir do seu contato com a tribo élfica que habitava a Floresta do Sol, cujo modo de vida estava mudando sob a influência dos elfos brilhantes. Para Odravas, o inverso teria sido melhor, pois, como afirmou, não há nada mais benéfico para o corpo e o espírito do que viver da terra, junto à terra e com os filhos da terra.
Em pouco tempo, ele reuniu um grande grupo de simpatizantes dispostos a seguir seus preceitos, que incluem usar roupas de tecido simples, não comer carne, não acumular riqueza ou objetos, trabalhar pelo bem comum.
Nos últimos anos de vida de Odravas, alguns de seus discípulos começaram a fundar pequenos povoados onde viviam em comunidade, cultivando hortas e criando carneiros ou cabras. A maioria ficou nas Terras Férteis, mas alguns decidiram levar a sério a ideia de “viver com os filhos da terra” e foram se estabelecer junto a tribos de caçadores, no Norte de Athelgard.
Desses povoados, o maior é Bryke, cujos habitantes, cientistas e letrados na maioria, se entenderam muito bem com seus vizinhos da Floresta dos Teixos. Foi lá que uma menina da Casa do Lobo se tornou uma Mestra de Sagas.
E nos contou sua primeira aventura no Castelo das Águias.
Rydel é retratado aqui no traço de Marina Vasconcelos.
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domingo, 10 de abril de 2011
Temporada das Flores (parte 2)
- Mestre Camdell. – Gurion acenou, vendo que o mago já saíra de sua concentração. Camdell retribuiu seu gesto e se pôs de pé, esperando que o intendente se aproximasse o bastante para falarem. Por discrição, o desconhecido retardou o passo, mas sorriu para ele, franzindo o rosto de traços finos e pele queimada de sol.
- Que bom tê-lo encontrado, mestre – disse Gurion. – Este jovem acaba de chegar à sua procura. Ele diz que tem uma carta para o senhor, da parte de Mestra Nya, da Escola de Ciências da Terra em Bergenan. Se não me engano, é alguém para quem Mestre Theoddor costumava escrever.
- É, sim. Por favor, aproxime-se... jovem? – disse Camdell, deixando que a última palavra soasse como uma pergunta.
- Eu diria que este senhor se enganou – sorriu o forasteiro. – Na verdade, fui companheiro de Theoddor na Escola de Ciências da Terra. Há cerca de quarenta anos.
- Mesmo? Oh. Bem, nesse caso peço desculpas – disse o intendente, ruborizado. – É difícil dizer qual a idade de um elfo. Mas se me permite a franqueza... Suas maneiras, suas roupas, enfim, tudo leva a crer que ainda é bem jovem, senhor. Adulto, mas jovem, como os aprendizes que concluem seus estudos conosco.
- Vou tomar isso como um elogio – disse o recém-chegado. O mago sorriu, gostando do seu jeito brincalhão, do despojamento de sua túnica de linho cru e das velhas sandálias. Uma pulseira de fio torcido era o único adorno, e no ombro ele trazia uma bolsa de cânhamo, da qual, depois de muito vasculhar, tirou uma carta que estendeu para Camdell.
- Mestra Nya lhe envia seus cumprimentos e pesar pela morte de Theoddor, e creio que fala também a meu respeito – disse. – Mas permita que eu me adiante. Meu nome é Rydel, estudioso de Ciências da Terra, principalmente de pássaros. Vivi os últimos anos numa aldeia próxima à Floresta do Sol, e agora estou indo para o País do Norte a fim de conhecer as comunidades de Korbyen e Bryke. Comunidades Odravas, como sabe.
- Sim. Viver da terra, junto à terra e com os filhos da terra – Camdell recitou o preceito que resumia a doutrina. – Eu conheci muitos seguidores do sábio Odravas. Tenho inclusive uma grande amiga que vive em Bryke, e suas cartas me deixam curioso a respeito da aldeia.
- Também quero conhecê-la, Mestre Camdell. Mas antes de partir – porque, provavelmente, vou demorar a retornar às Terras Férteis – vim lhe pedir um favor, o qual, tenho certeza, Theoddor não recusaria. É a respeito das águias – revelou o elfo. – As águias mais lindas de Athelgard, que só existem nesta floresta. Eu gostaria de observá-las ao longo de duas estações.
- As águias douradas – disse o mago.
Rydel assentiu, com ar esperançoso, e ficou em silêncio. Também Camdell, apesar de tudo que vira e sentira momentos atrás; de alguma forma, ainda precisava de um sinal. No entanto, quando pensava em convidar o visitante a se hospedar por aquela noite – na qual, a sós, refletiria sobre o seu pedido - das flores que cresciam junto à laje voou uma borboleta, de asas coloridas com todos os matizes da estação. Ela esvoaçou em torno da cabeça de Rydel, beijando-lhe os cabelos, e voou levando consigo todas as dúvidas do mago.
Theoddor concedera a sua bênção.
- Seja bem vindo entre nós. – Camdell ergueu a mão, sentindo a pressão suave da palma do forasteiro. – Gurion, aqui presente, fará o favor de lhe arranjar aposentos na ala de hóspedes. Pode ficar o tempo que quiser.
- Muito obrigado. Na verdade era o que esperava – confessou Rydel. – Talvez duas estações não sejam suficientes... Mas, veja, não quero ser um fardo – acrescentou, com ênfase. – Ao contrário, pretendo retribuir sua hospitalidade. Deve haver algo no castelo que eu possa fazer, cuidar de um pomar de árvores... de uma horta...
- Acharemos, certamente, um trabalho adequado – disse Camdell. – Por agora, talvez possa nos dizer algo sobre estas flores. Tenho vindo a esta colina, em todas as estações, nos últimos sete anos, mas não me lembro de ter visto nada assim.
- Estas aqui? – Rydel se agachou, observando-as com interesse. - É curioso, já vi flores bem parecidas, mas com estas cores nunca. Logo mais, se me permitir, trarei ferramentas e um cesto e levarei algumas, com as raízes, para fazer um exame.
- Use o gabinete de Theoddor. Está como ele deixou – ofereceu Camdell. Gurion ergueu a cabeça, com vivacidade, olhando para um e para outro até compreender. Então, com um leve suspiro, aquiesceu, tentando se manter firme sob o manto de luto e tristeza por seu mestre.
- Vou levar o Senhor Rydel a seus aposentos – disse. – O senhor vai ficar? O Irmão Dougan estava à sua procura.
- Sei o que ele vai dizer – replicou o mago. – E também o que você pode fazer. Procure quem trabalhe com números aqui em Vrindavahn - comerciantes, quem sabe - e diga que procuramos um novo professor. Um que não pense que ofendemos a seu Deus com nossas práticas.
- Muito bem. Mas, Mestre Camdell... é só para a Matemática? Não precisamos de nada mais?
Dizendo isso, o intendente olhava para Rydel, ainda ajoelhado em meio às flores que pareciam intrigá-lo. Ao seu redor flutuava uma aura límpida, azul e rosada como aquelas pétalas, as bordas irradiando os raios vermelhos da energia e do entusiasmo. Havia tanto a ser descoberto no Castelo das Águias! E tanto a partilhar!
- Não, Gurion – disse Camdell, sorrindo. – Por duas estações, talvez mais... já conseguimos tudo que nos faltava.
Leia a Parte 1
- Que bom tê-lo encontrado, mestre – disse Gurion. – Este jovem acaba de chegar à sua procura. Ele diz que tem uma carta para o senhor, da parte de Mestra Nya, da Escola de Ciências da Terra em Bergenan. Se não me engano, é alguém para quem Mestre Theoddor costumava escrever.
- É, sim. Por favor, aproxime-se... jovem? – disse Camdell, deixando que a última palavra soasse como uma pergunta.
- Eu diria que este senhor se enganou – sorriu o forasteiro. – Na verdade, fui companheiro de Theoddor na Escola de Ciências da Terra. Há cerca de quarenta anos.
- Mesmo? Oh. Bem, nesse caso peço desculpas – disse o intendente, ruborizado. – É difícil dizer qual a idade de um elfo. Mas se me permite a franqueza... Suas maneiras, suas roupas, enfim, tudo leva a crer que ainda é bem jovem, senhor. Adulto, mas jovem, como os aprendizes que concluem seus estudos conosco.
- Vou tomar isso como um elogio – disse o recém-chegado. O mago sorriu, gostando do seu jeito brincalhão, do despojamento de sua túnica de linho cru e das velhas sandálias. Uma pulseira de fio torcido era o único adorno, e no ombro ele trazia uma bolsa de cânhamo, da qual, depois de muito vasculhar, tirou uma carta que estendeu para Camdell.
- Mestra Nya lhe envia seus cumprimentos e pesar pela morte de Theoddor, e creio que fala também a meu respeito – disse. – Mas permita que eu me adiante. Meu nome é Rydel, estudioso de Ciências da Terra, principalmente de pássaros. Vivi os últimos anos numa aldeia próxima à Floresta do Sol, e agora estou indo para o País do Norte a fim de conhecer as comunidades de Korbyen e Bryke. Comunidades Odravas, como sabe.
- Sim. Viver da terra, junto à terra e com os filhos da terra – Camdell recitou o preceito que resumia a doutrina. – Eu conheci muitos seguidores do sábio Odravas. Tenho inclusive uma grande amiga que vive em Bryke, e suas cartas me deixam curioso a respeito da aldeia.
- Também quero conhecê-la, Mestre Camdell. Mas antes de partir – porque, provavelmente, vou demorar a retornar às Terras Férteis – vim lhe pedir um favor, o qual, tenho certeza, Theoddor não recusaria. É a respeito das águias – revelou o elfo. – As águias mais lindas de Athelgard, que só existem nesta floresta. Eu gostaria de observá-las ao longo de duas estações.
- As águias douradas – disse o mago.
Rydel assentiu, com ar esperançoso, e ficou em silêncio. Também Camdell, apesar de tudo que vira e sentira momentos atrás; de alguma forma, ainda precisava de um sinal. No entanto, quando pensava em convidar o visitante a se hospedar por aquela noite – na qual, a sós, refletiria sobre o seu pedido - das flores que cresciam junto à laje voou uma borboleta, de asas coloridas com todos os matizes da estação. Ela esvoaçou em torno da cabeça de Rydel, beijando-lhe os cabelos, e voou levando consigo todas as dúvidas do mago.
Theoddor concedera a sua bênção.
- Seja bem vindo entre nós. – Camdell ergueu a mão, sentindo a pressão suave da palma do forasteiro. – Gurion, aqui presente, fará o favor de lhe arranjar aposentos na ala de hóspedes. Pode ficar o tempo que quiser.
- Muito obrigado. Na verdade era o que esperava – confessou Rydel. – Talvez duas estações não sejam suficientes... Mas, veja, não quero ser um fardo – acrescentou, com ênfase. – Ao contrário, pretendo retribuir sua hospitalidade. Deve haver algo no castelo que eu possa fazer, cuidar de um pomar de árvores... de uma horta...
- Acharemos, certamente, um trabalho adequado – disse Camdell. – Por agora, talvez possa nos dizer algo sobre estas flores. Tenho vindo a esta colina, em todas as estações, nos últimos sete anos, mas não me lembro de ter visto nada assim.
- Estas aqui? – Rydel se agachou, observando-as com interesse. - É curioso, já vi flores bem parecidas, mas com estas cores nunca. Logo mais, se me permitir, trarei ferramentas e um cesto e levarei algumas, com as raízes, para fazer um exame.
- Use o gabinete de Theoddor. Está como ele deixou – ofereceu Camdell. Gurion ergueu a cabeça, com vivacidade, olhando para um e para outro até compreender. Então, com um leve suspiro, aquiesceu, tentando se manter firme sob o manto de luto e tristeza por seu mestre.
- Vou levar o Senhor Rydel a seus aposentos – disse. – O senhor vai ficar? O Irmão Dougan estava à sua procura.
- Sei o que ele vai dizer – replicou o mago. – E também o que você pode fazer. Procure quem trabalhe com números aqui em Vrindavahn - comerciantes, quem sabe - e diga que procuramos um novo professor. Um que não pense que ofendemos a seu Deus com nossas práticas.
- Muito bem. Mas, Mestre Camdell... é só para a Matemática? Não precisamos de nada mais?
Dizendo isso, o intendente olhava para Rydel, ainda ajoelhado em meio às flores que pareciam intrigá-lo. Ao seu redor flutuava uma aura límpida, azul e rosada como aquelas pétalas, as bordas irradiando os raios vermelhos da energia e do entusiasmo. Havia tanto a ser descoberto no Castelo das Águias! E tanto a partilhar!
- Não, Gurion – disse Camdell, sorrindo. – Por duas estações, talvez mais... já conseguimos tudo que nos faltava.
Leia a Parte 1
quarta-feira, 6 de abril de 2011
Temporada das Flores (parte 1)
Finalmente, nosso primeiro conto, apresentando mais um personagem de O Castelo das Águias. Espero que curtam lê-lo tanto quanto eu gostei de o escrever.
- Se Theoddor estivesse aqui, poderia me falar sobre vocês – disse Camdell, dirigindo-se às flores. De corolas firmes, com pétalas azuis rajadas de um rosa vivo, elas se espalhavam pela colina, concentrando-se sobretudo em torno da laje que marcava o túmulo de seu amigo. Era como se soubessem o quanto ele as teria apreciado.
Theoddor de Vrindavahn fora o último senhor do Castelo das Águias. Ao nascer, já não era nobre – os títulos de nobreza tinham sido extinguidos nas Terras Férteis há várias gerações – mas herdara uma fortuna considerável, que lhe teria permitido uma vida tão despreocupada quanto as de seus ancestrais. Em vez disso ele se dedicou aos estudos, com a firme intenção de ingressar na Escola de Magia de Riverast. Inútil esforço: além do sangue inteiramente humano, que por si só diminuía suas chances, Theoddor nascera sem o Dom. Foi essa a alegação dos mestres ao recusar-lhe a entrada.
Em meio a tantas rejeições, uma única voz se levantara a seu favor: a de Camdell, um mago com três quartos de sangue élfico, já então tido na Escola como excêntrico por discordar das limitações impostas ao aprendizado. Os dois partiram de Riverast na mesma época, um para estudar Ciências da Terra e o outro para a Escola Bárdica em Kalket, e em três décadas não se passou um ano em que não trocassem pelo menos uma carta. E como, embora separados, suas idéias se aproximassem cada vez mais, Theoddor convidou o amigo a viver no Castelo das Águias, onde fundaram e se dedicaram durante sete anos à sua idealizada Escola de Artes Mágicas.
Agora, finalmente, ela era mais do que apenas um sonho. Mas Theoddor já não estava ali para ver.
Camdell pousou um joelho no chão e encostou a palma da mão à laje. Sob o sol de primavera, ela estava aquecida, o que também teria agradado a Theoddor. Ele amava o calor, a claridade, as cores vivas que a Natureza só exibia nas estações mais quentes. Era quando fazia a maior parte de suas descobertas, plantas e insetos até então desconhecidos que coletava, com todo cuidado, para estudar em seu laboratório. Quando chegava a uma conclusão, partilhava-a, cheio de entusiasmo, não só com sábios como ele mas também com os mestres, aprendizes e até empregados da Escola, por mais humildes que fossem. Era um homem decidido e generoso, e sua ausência fora lamentada ao longo de todo aquele inverno. Agora, porém, chegara a primavera, e a Natureza vestira as colinas de flores – o que, para Camdell, era um sinal de que o tempo do luto devia ser deixado para trás.
Era preciso despertar da letargia e encarar seus problemas. Felizmente não havia nenhum relativo à posse do Castelo – anos atrás, Theoddor fizera dele o seu herdeiro, e o documento não podia ser contestado – mas alguns empregados tinham decidido partir, e o mesmo ameaçava fazer o Irmão Dougan, o mestre de Matemática que haviam contratado através do Templo. Não fora boa ideia convidar um homem tão devoto para trabalhar numa Escola de Magia. Além disso, havia a questão das Ciências da Terra, que sempre tinham estado a cargo de Theoddor e que nenhum dos outros conhecia o bastante para ensinar. Camdell já poderia ter feito algo a respeito, procurando algum estudioso da Natureza ali mesmo em Vrindavahn ou, melhor ainda, escrevendo aos antigos colegas de Theoddor e pedindo que recomendassem um substituto. Várias pessoas, na Escola, tinham sugerido isso. No entanto, o assunto parecia sempre fugir de sua memória, como se, tendo vida própria, insistisse em ser deixado para mais tarde. Para quando a solução pudesse fluir naturalmente e em harmonia.
Talvez as flores também quisessem dizer algo a esse respeito.
Camdell fechou os olhos por alguns instantes, depois voltou a abri-los, fixando-os na flor cujas pétalas lhe pareceram ter a cor mais viva. Durante um longo tempo ele ficou assim, imóvel e concentrado, a mente vazia se tornando o receptáculo ideal para as visões. No início eram imagens sem sentido, formas e cores fugazes que, no entanto, foram pouco a pouco se agrupando como num mosaico. Sem esforço, sem resistência, o mago permitiu que sua mente viajasse ao longo daquele padrão, que o percorresse e esquadrinhasse até ser capaz de compreendê-lo.
Então, as coisas se tornaram repentinamente muito claras. Com um sobressalto, ele regressou de sua jornada, os olhos piscando, acostumando-se de novo ao sol enquanto buscavam o sopé da colina.
E lá, iniciando a subida, estava Gurion, o fidelíssimo intendente do Castelo, seguido por um forasteiro de cabelos dourados.
Parte 2
- Se Theoddor estivesse aqui, poderia me falar sobre vocês – disse Camdell, dirigindo-se às flores. De corolas firmes, com pétalas azuis rajadas de um rosa vivo, elas se espalhavam pela colina, concentrando-se sobretudo em torno da laje que marcava o túmulo de seu amigo. Era como se soubessem o quanto ele as teria apreciado.
Theoddor de Vrindavahn fora o último senhor do Castelo das Águias. Ao nascer, já não era nobre – os títulos de nobreza tinham sido extinguidos nas Terras Férteis há várias gerações – mas herdara uma fortuna considerável, que lhe teria permitido uma vida tão despreocupada quanto as de seus ancestrais. Em vez disso ele se dedicou aos estudos, com a firme intenção de ingressar na Escola de Magia de Riverast. Inútil esforço: além do sangue inteiramente humano, que por si só diminuía suas chances, Theoddor nascera sem o Dom. Foi essa a alegação dos mestres ao recusar-lhe a entrada.
Em meio a tantas rejeições, uma única voz se levantara a seu favor: a de Camdell, um mago com três quartos de sangue élfico, já então tido na Escola como excêntrico por discordar das limitações impostas ao aprendizado. Os dois partiram de Riverast na mesma época, um para estudar Ciências da Terra e o outro para a Escola Bárdica em Kalket, e em três décadas não se passou um ano em que não trocassem pelo menos uma carta. E como, embora separados, suas idéias se aproximassem cada vez mais, Theoddor convidou o amigo a viver no Castelo das Águias, onde fundaram e se dedicaram durante sete anos à sua idealizada Escola de Artes Mágicas.
Agora, finalmente, ela era mais do que apenas um sonho. Mas Theoddor já não estava ali para ver.
Camdell pousou um joelho no chão e encostou a palma da mão à laje. Sob o sol de primavera, ela estava aquecida, o que também teria agradado a Theoddor. Ele amava o calor, a claridade, as cores vivas que a Natureza só exibia nas estações mais quentes. Era quando fazia a maior parte de suas descobertas, plantas e insetos até então desconhecidos que coletava, com todo cuidado, para estudar em seu laboratório. Quando chegava a uma conclusão, partilhava-a, cheio de entusiasmo, não só com sábios como ele mas também com os mestres, aprendizes e até empregados da Escola, por mais humildes que fossem. Era um homem decidido e generoso, e sua ausência fora lamentada ao longo de todo aquele inverno. Agora, porém, chegara a primavera, e a Natureza vestira as colinas de flores – o que, para Camdell, era um sinal de que o tempo do luto devia ser deixado para trás.
Era preciso despertar da letargia e encarar seus problemas. Felizmente não havia nenhum relativo à posse do Castelo – anos atrás, Theoddor fizera dele o seu herdeiro, e o documento não podia ser contestado – mas alguns empregados tinham decidido partir, e o mesmo ameaçava fazer o Irmão Dougan, o mestre de Matemática que haviam contratado através do Templo. Não fora boa ideia convidar um homem tão devoto para trabalhar numa Escola de Magia. Além disso, havia a questão das Ciências da Terra, que sempre tinham estado a cargo de Theoddor e que nenhum dos outros conhecia o bastante para ensinar. Camdell já poderia ter feito algo a respeito, procurando algum estudioso da Natureza ali mesmo em Vrindavahn ou, melhor ainda, escrevendo aos antigos colegas de Theoddor e pedindo que recomendassem um substituto. Várias pessoas, na Escola, tinham sugerido isso. No entanto, o assunto parecia sempre fugir de sua memória, como se, tendo vida própria, insistisse em ser deixado para mais tarde. Para quando a solução pudesse fluir naturalmente e em harmonia.
Talvez as flores também quisessem dizer algo a esse respeito.
Camdell fechou os olhos por alguns instantes, depois voltou a abri-los, fixando-os na flor cujas pétalas lhe pareceram ter a cor mais viva. Durante um longo tempo ele ficou assim, imóvel e concentrado, a mente vazia se tornando o receptáculo ideal para as visões. No início eram imagens sem sentido, formas e cores fugazes que, no entanto, foram pouco a pouco se agrupando como num mosaico. Sem esforço, sem resistência, o mago permitiu que sua mente viajasse ao longo daquele padrão, que o percorresse e esquadrinhasse até ser capaz de compreendê-lo.
Então, as coisas se tornaram repentinamente muito claras. Com um sobressalto, ele regressou de sua jornada, os olhos piscando, acostumando-se de novo ao sol enquanto buscavam o sopé da colina.
E lá, iniciando a subida, estava Gurion, o fidelíssimo intendente do Castelo, seguido por um forasteiro de cabelos dourados.
Parte 2
domingo, 3 de abril de 2011
Camdell de Riverast e a Escola de Artes Mágicas
O Mentor da Escola de Artes Mágicas provém de uma ilustre família élfica pelo lado materno. Sua mãe era perita em Artes da Cura. O pai, meio-humano, se destacou como o principal magistrado ligado ao governo de Riverast.
Camdell manifestou o Dom da Magia na adolescência. Ao longo de décadas, foi galgando posições cada vez mais elevadas, ao mesmo tempo que se tornava um dos mestres da Escola de Magia de Riverast. Isso não o impediu de defender posições polêmicas, inclusive aquela que determinou seu afastamento da Escola: a afirmação de que pessoas nascidas sem o Dom da Magia poderiam desenvolvê-lo, desde que usassem um método apropriado.
A criação desse método levou Camdell, primeiro às Escolas Bárdicas de Kalket, onde conheceu pessoas como Maryan e Lara; depois às comunidades de artistas de Madrath; mais tarde, ainda, às estradas, onde conviveu com músicos, atores e saltimbancos. Por fim, concluiu que a disciplina e a concentração usadas por esses artistas podia ser o ponto de partida para despertar as habilidades mágicas.
De volta a Riverast, Camdell encontrou pouco respaldo para suas idéias. No entanto, elas entusiasmaram um amigo de longa data: Theoddor, mestre de Ciências da Terra e descendente da antiga nobreza de Vrindavahn, uma cidade fundada pelos homens à beira do mar interior.
Assim, o Castelo das Águias, propriedade de Theoddor, passou a sediar a Escola de Artes Mágicas idealizada por Camdell. Seus primeiros mestres, além dos fundadores, foram três amigos dispostos a fazer uma experiência: Finn e Sophia de Riverast e Thalia de Erchedel. Outros mestres se juntaram a eles ao longo dos anos, e a Escola foi crescendo e ganhando prestígio à medida que o método se provou um sucesso.
Camdell é uma pessoa gentil e conciliadora, que procura fazer com que todos se sintam bem. Votos e iniciações feitas ao longo da vida restringem qualquer ação que envolva violência ou mesmo disputas. É também distraído e muito sensível. Extremamente ligado a seus amigos, a morte de Theoddor lhe causou um baque profundo, mas Camdell conseguiu superá-lo, aceitando que a vida se transforma e se renova como as estações.
Depois disso, um novo mestre passou a integrar a comunidade do Castelo. E vamos conhecê-lo da melhor maneira: em um conto inédito!
Aguardem o próximo post!
Camdell é retratado aqui no traço de Marina Vasconcelos.
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segunda-feira, 21 de março de 2011
Como Ser um Mago em Athelgard
O Dom inato da Magia pode se manifestar de várias formas. Algumas vezes é percebido na criança ou jovem por um mago mais experiente, mas também é muito comum que se revele através de sonhos, visões e acontecimentos involuntários. Em lugares onde a Magia é malvista isso pode trazer sérios problemas. Já nas Terras Férteis, ter um mago na família é quase sempre motivo de orgulho, principalmente entre os Elfos Brilhantes.
Ainda que surja de forma espontânea, o Dom precisa se fortalecer e se desenvolver por meio de um aprendizado. Este é sempre individual; ainda que um mago tenha vários aprendizes sob sua responsabilidade e que estes compartilhem ensinamentos, cada um progredirá de acordo com seu próprio ritmo.
A duração do aprendizado também é variável. O mínimo de tempo exigido para completá-lo é de sete anos, nove ou dez a média. O importante é que o aprendiz passe por três iniciações, correspondentes aos níveis básicos de conhecimento e domínio da Magia, e um teste final, que lhe dará o direito de usar a tiara e a espada ritualísticas. A partir daí ele é considerado um mago, membro do Círculo Menor e sujeito às regras do Conselho de Magia (não que não existam rebeldes).
De um modo geral, não há muita coisa que possa ocupar um mago nas Terras Férteis além dos seus próprios estudos. Alguns trabalham junto ao governo das cidades, como conselheiros ou em funções burocráticas; outros são convocados como diplomatas, e há os que têm uma segunda ocupação, em geral ligada às Artes ou à Ciência. Os mais aventureiros podem preferir deixar as Terras Férteis e se estabelecer em localidades do País do Norte, onde a Magia é incomum. Por isso mesmo é valorizada pelos governantes, que empregam magos como conselheiros, estrategistas e defensores de suas terras - esse será provavelmente o destino de Lear, o Encanta-Dragões.
Para os que permanecem nas Terras Férteis, existe uma forma de aprofundar seus conhecimentos: ingressar na Escola de Magia sediada em Riverast. Ali, magos já iniciados complementam e avançam em seus estudos sob a supervisão de mestres que pertencem ao Círculo Maior, podendo, eles mesmos, vir a ascender na hierarquia do Conselho. Este, porém, é extremamente restritivo e rigoroso, inclusive na seleção de alunos para os cursos avançados. Os critérios levam em conta raça e origem, além do que gerou a discussão conhecida como a “Cisão de Camdell”: uma pessoa nascida sem o Dom da Magia pode desenvolvê-lo através do aprendizado?
O Conselho afirma que não, mas um de seus membros – Camdell, um poderoso Mago da Alma e Mestre de Sagas – sustenta que é possível, utilizando um método improvável que se baseia no treinamento dos saltimbancos.
Foi para provar isso que ele fundou uma Escola muito especial... no Castelo das Águias.
Não percam o próximo post, onde apresentaremos o Mentor da Escola de Artes Mágicas: Camdell de Riverast!
Ainda que surja de forma espontânea, o Dom precisa se fortalecer e se desenvolver por meio de um aprendizado. Este é sempre individual; ainda que um mago tenha vários aprendizes sob sua responsabilidade e que estes compartilhem ensinamentos, cada um progredirá de acordo com seu próprio ritmo.
A duração do aprendizado também é variável. O mínimo de tempo exigido para completá-lo é de sete anos, nove ou dez a média. O importante é que o aprendiz passe por três iniciações, correspondentes aos níveis básicos de conhecimento e domínio da Magia, e um teste final, que lhe dará o direito de usar a tiara e a espada ritualísticas. A partir daí ele é considerado um mago, membro do Círculo Menor e sujeito às regras do Conselho de Magia (não que não existam rebeldes).
De um modo geral, não há muita coisa que possa ocupar um mago nas Terras Férteis além dos seus próprios estudos. Alguns trabalham junto ao governo das cidades, como conselheiros ou em funções burocráticas; outros são convocados como diplomatas, e há os que têm uma segunda ocupação, em geral ligada às Artes ou à Ciência. Os mais aventureiros podem preferir deixar as Terras Férteis e se estabelecer em localidades do País do Norte, onde a Magia é incomum. Por isso mesmo é valorizada pelos governantes, que empregam magos como conselheiros, estrategistas e defensores de suas terras - esse será provavelmente o destino de Lear, o Encanta-Dragões.
Para os que permanecem nas Terras Férteis, existe uma forma de aprofundar seus conhecimentos: ingressar na Escola de Magia sediada em Riverast. Ali, magos já iniciados complementam e avançam em seus estudos sob a supervisão de mestres que pertencem ao Círculo Maior, podendo, eles mesmos, vir a ascender na hierarquia do Conselho. Este, porém, é extremamente restritivo e rigoroso, inclusive na seleção de alunos para os cursos avançados. Os critérios levam em conta raça e origem, além do que gerou a discussão conhecida como a “Cisão de Camdell”: uma pessoa nascida sem o Dom da Magia pode desenvolvê-lo através do aprendizado?
O Conselho afirma que não, mas um de seus membros – Camdell, um poderoso Mago da Alma e Mestre de Sagas – sustenta que é possível, utilizando um método improvável que se baseia no treinamento dos saltimbancos.
Foi para provar isso que ele fundou uma Escola muito especial... no Castelo das Águias.
Não percam o próximo post, onde apresentaremos o Mentor da Escola de Artes Mágicas: Camdell de Riverast!
domingo, 13 de março de 2011
A Magia em Athelgard (2)
Magia da Forma e Pensamento
Nessa vertente, a vontade do mago é treinada de forma a interferir nos planos físico e mental. Isso possibilita ações como a visualização da aura e de imagens mentais, a transformação de objetos, o controle das forças da natureza, entre muitas outras. A vontade é treinada por meio de exercícios e quase sempre fortalecida por rituais que incluem gestos, símbolos, sons e ferramentas de poder, como aneis e bastões.
Alguns magos, como Kieran de Scyllix, são mais hábeis em trabalhar com a energia mental, fazendo relativamente pouco uso dos rituais. Já outros têm mais facilidade com a manipulação das formas, como Finn de Riverast, que divide as aulas com Kieran; esses magos costumam dar mais atenção aos ritos e a todo o aparato visível da Magia.
A prática de Magia da Forma e Pensamento exige estudos paralelos acerca dos símbolos, dos astros, dos sons e dos números. Conhecer o significado e a vibração dos nomes é tão importante que deu origem a uma “especialidade” chamada, justamente, de Magia dos Nomes, cujo preceito principal é sempre lembrado aos aprendizes: “Mude o nome de um rio e mudará seu curso”. Bardos e Mestres de Sagas, embora não sejam magos, devem ter isso em mente ao contar histórias.
As pessoas talhadas para esse tipo de Magia costumam manifestar o Dom ainda na infância. Ao contrário dos Magos da Alma, sempre meditando e questionando a si mesmos, os adeptos da Forma e Pensamento podem ter qualquer tipo de personalidade e temperamento, não necessariamente se tornando mais generosos, tolerantes ou sábios à medida que progridem em seus estudos.
No próximo post: Como ser um Mago em Athelgard?
E aqui deixamos mais um desenho do Kieran, desta vez com um ar de roqueiro emprestado pela devota de Thonarr (Thor, em nosso universo), Ana Clara Thomazini.
Nessa vertente, a vontade do mago é treinada de forma a interferir nos planos físico e mental. Isso possibilita ações como a visualização da aura e de imagens mentais, a transformação de objetos, o controle das forças da natureza, entre muitas outras. A vontade é treinada por meio de exercícios e quase sempre fortalecida por rituais que incluem gestos, símbolos, sons e ferramentas de poder, como aneis e bastões.
Alguns magos, como Kieran de Scyllix, são mais hábeis em trabalhar com a energia mental, fazendo relativamente pouco uso dos rituais. Já outros têm mais facilidade com a manipulação das formas, como Finn de Riverast, que divide as aulas com Kieran; esses magos costumam dar mais atenção aos ritos e a todo o aparato visível da Magia.
A prática de Magia da Forma e Pensamento exige estudos paralelos acerca dos símbolos, dos astros, dos sons e dos números. Conhecer o significado e a vibração dos nomes é tão importante que deu origem a uma “especialidade” chamada, justamente, de Magia dos Nomes, cujo preceito principal é sempre lembrado aos aprendizes: “Mude o nome de um rio e mudará seu curso”. Bardos e Mestres de Sagas, embora não sejam magos, devem ter isso em mente ao contar histórias.
As pessoas talhadas para esse tipo de Magia costumam manifestar o Dom ainda na infância. Ao contrário dos Magos da Alma, sempre meditando e questionando a si mesmos, os adeptos da Forma e Pensamento podem ter qualquer tipo de personalidade e temperamento, não necessariamente se tornando mais generosos, tolerantes ou sábios à medida que progridem em seus estudos.
No próximo post: Como ser um Mago em Athelgard?
E aqui deixamos mais um desenho do Kieran, desta vez com um ar de roqueiro emprestado pela devota de Thonarr (Thor, em nosso universo), Ana Clara Thomazini.
quinta-feira, 3 de março de 2011
A Magia em Athelgard (1)
Há vários tipos de práticas mágicas em Athelgard. As pessoas que se denominam magos são quase sempre adeptas de uma das duas vertentes da Magia tradicional dos Elfos Brilhantes: a da Alma, também chamada do Fogo, e da Forma e Pensamento. A imensa maioria delas vive nas Terras Férteis. Existem ainda xamãs, curandeiros que se valem de alguns conhecimentos específicos de Magia e simples feiticeiros.
Independente de quem a pratica, a Magia tem regras que devem ser observadas, principalmente a do equilíbrio entre as energias que atuam no universo. Bem e Mal, vida e morte, luz e trevas são forças opostas e complementares, e todo mago deve ser consciência de que suas ações terão efeitos não apenas no mundo físico, mas também, quase sempre, no plano do invisível.
Magia da Alma
- A tradição élfica
É o tipo mais sutil de Magia. Por meio de exercícios de concentração e de meditações, o mago entra em sintonia com as vibrações ao seu redor, reconhecendo os padrões segundo os quais as coisas se transformam e agindo a favor do equilíbrio. A maior parte dos magos da Alma se concentra observando o fogo – daí o outro nome dessa tradição – e executa rituais mínimos, que às vezes se resumem a gestos.
Quase todos os adeptos da Magia da Alma são Elfos Brilhantes ou têm predominância de sangue élfico. A prática os leva a passar por grandes transformações internas ao longo da vida, que podem mudar sua forma de encarar o mundo. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Odravas, criador do movimento que prega o abandono das cidades e da civilização em favor de uma vida mais simples.
- Devotos, xamãs e feiticeiros
A religião dos Homens tende a se posicionar contra a Magia. Mesmo nas Terras Férteis, onde o convívio com os Elfos obriga a maior tolerância, os Prestes (sacerdotes) são proibidos de praticá-la, enquanto os leigos são desencorajados. No entanto, há pessoas capazes de realizar atos mágicos por meio de sua fé, principalmente entre os devotos de Thonarr, o Senhor do Raio. É o caso de Padraig, um aprendiz da Escola de Artes Mágicas que promete vir a ser um mago poderoso.
Praticado nas tribos das florestas, o xamanismo também é uma forma de Magia ligada à Alma. Vivendo próximos à terra, os xamãs reconhecem a existência de um Espírito em todas as coisas e a ligação entre as pessoas e a Natureza.
Em regiões habitadas apenas por Homens há, por vezes, práticas diferenciadas. No Oeste, qualquer forma de Magia costuma ser encarada com horror, mas mesmo assim há muitos feiticeiros, geralmente com pouco poder, que vivem de explorar a superstição alheia. No Leste, o Povo Alto praticava uma forma simplificada de Magia da Alma, duramente reprimida após a reconquista do território pelos primeiros colonizadores. Já em lugares mais selvagens, como as Terras Geladas, os feiticeiros costumam se aliar aos grandes senhores e auxiliá-los em seus feitos.
No próximo post: a Magia da Forma e Pensamento, especialidade de Mestre Kieran.
O personagem que todos amam retratar aparece aqui em desenho de Vania Vidal, datado - reparem - de 2008, quando o livro se resumia a um sonho e um monte de papel rabiscado.
Independente de quem a pratica, a Magia tem regras que devem ser observadas, principalmente a do equilíbrio entre as energias que atuam no universo. Bem e Mal, vida e morte, luz e trevas são forças opostas e complementares, e todo mago deve ser consciência de que suas ações terão efeitos não apenas no mundo físico, mas também, quase sempre, no plano do invisível.
Magia da Alma
- A tradição élfica
É o tipo mais sutil de Magia. Por meio de exercícios de concentração e de meditações, o mago entra em sintonia com as vibrações ao seu redor, reconhecendo os padrões segundo os quais as coisas se transformam e agindo a favor do equilíbrio. A maior parte dos magos da Alma se concentra observando o fogo – daí o outro nome dessa tradição – e executa rituais mínimos, que às vezes se resumem a gestos.
Quase todos os adeptos da Magia da Alma são Elfos Brilhantes ou têm predominância de sangue élfico. A prática os leva a passar por grandes transformações internas ao longo da vida, que podem mudar sua forma de encarar o mundo. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Odravas, criador do movimento que prega o abandono das cidades e da civilização em favor de uma vida mais simples.
- Devotos, xamãs e feiticeiros
A religião dos Homens tende a se posicionar contra a Magia. Mesmo nas Terras Férteis, onde o convívio com os Elfos obriga a maior tolerância, os Prestes (sacerdotes) são proibidos de praticá-la, enquanto os leigos são desencorajados. No entanto, há pessoas capazes de realizar atos mágicos por meio de sua fé, principalmente entre os devotos de Thonarr, o Senhor do Raio. É o caso de Padraig, um aprendiz da Escola de Artes Mágicas que promete vir a ser um mago poderoso.
Praticado nas tribos das florestas, o xamanismo também é uma forma de Magia ligada à Alma. Vivendo próximos à terra, os xamãs reconhecem a existência de um Espírito em todas as coisas e a ligação entre as pessoas e a Natureza.
Em regiões habitadas apenas por Homens há, por vezes, práticas diferenciadas. No Oeste, qualquer forma de Magia costuma ser encarada com horror, mas mesmo assim há muitos feiticeiros, geralmente com pouco poder, que vivem de explorar a superstição alheia. No Leste, o Povo Alto praticava uma forma simplificada de Magia da Alma, duramente reprimida após a reconquista do território pelos primeiros colonizadores. Já em lugares mais selvagens, como as Terras Geladas, os feiticeiros costumam se aliar aos grandes senhores e auxiliá-los em seus feitos.
No próximo post: a Magia da Forma e Pensamento, especialidade de Mestre Kieran.
O personagem que todos amam retratar aparece aqui em desenho de Vania Vidal, datado - reparem - de 2008, quando o livro se resumia a um sonho e um monte de papel rabiscado.
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