quarta-feira, 29 de junho de 2011

Lara de Kalket


De todos os magos que Anna de Bryke conhece no Castelo das Águias, Lara é a que, de início, lhe parece mais enigmática. Meio-elfa, tem um aspecto frágil, e de fato parece ser protegida pelos outros mestres, principalmente Kieran, Thalia e o próprio Mentor Camdell.

Uma das possíveis explicações para isso surge quando Anna fica sabendo que Lara foi casada com Hillias , o mago de cabelos dourados que é também um Mestre de Combate na Escola de Guerra de Scyllix. O casamento não deu certo, e seu final parece ter envolvido outras pessoas e outras questões além do próprio relacionamento do casal - questões ligadas à Magia dos Nomes, especialidade de Lara, e ao domínio das águias guerreiras. Ou será que as coisas entre Lara e Hillias não chegaram, de fato, a um final?

Só existe uma forma de descobrir... Lendo O Castelo das Águias!

Lara de Kalket é retratada aqui pelo traço da primeira artista que alguma vez se ocupou de meus personagens: minha irmã, Luiza Merege. Aguardamos comentários. ;)

terça-feira, 14 de junho de 2011

Meu Amor é um Anjo - Lançamento


Pessoas Queridas,

Este blog é dedicado ao Castelo das Águias e histórias associadas, mas eu não poderia deixar de anunciar este lançamento da Editora Draco. Trata-se do segundo volume da Coleção Amores Proibidos, iniciada no ano passado com Meu Amor é um Vampiro. Aqui, asas e auréolas substituem presas e capas negras em histórias ora ternas, ora divertidas, mas sempre contadas com mestria por nossas autoras.

Três delas estarão dia 16 de julho na Livraria Blooks, aqui no Rio, para autografar o livro. Como prefaciadora, também terei a honra de lá estar. Esperamos por vocês com muito carinho e a certeza de que curtirão a leitura.

Apressem-se... O Amor já está no ar!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Lear, o Encanta-Dragões


Lear é um dos alunos mais adiantados da Escola de Artes Mágicas, membro do Terceiro Círculo do aprendizado. Ter chegado até esse ponto mostra que passou com sucesso por duas iniciações e que tem talento – embora, na opinião de alguns mestres, este seja mais para a Arte do que para a Magia.

Filho de uma família abastada de Madrath, Lear, ao que tudo indica, teve uma infância feliz e protegida. É um jovem confiante, com excelente opinião de si mesmo, que chega a parecer egocêntrico, mas que, visto de perto, se revela como ingênuo e imaturo. Apesar disso, tem princípios, um bom coração e até bastante presença de espírito, traços que se revelam nos momentos de crise.

Além de ”estrelar” as peças montadas pelos aprendizes, Lear costuma transformar em espetáculos seus próprios rituais mágicos, usando grandes gestos, trajes extravagantes e muita Magia da Forma para colorir tudo que faz. Pensando grande em relação a seu futuro, atribuiu a si mesmo o título de Encanta-Dragões, com o qual pretende sair pelo mundo ajudando os fracos e oprimidos.

E, claro, receber aplausos por isso.

Lear de Madrath foi desenhado por mim. Por favor, não joguem tomates.

terça-feira, 7 de junho de 2011

O Fogo Interior (Final)

- Moleque idiota! Olhe o que fez! – rosnou o recém-chegado, a voz mais soturna que nunca. – Sabia que tinha sido você!

- M-Mestre Kieran – balbuciou Razek. – Eu não...

- Não o quê? Vai negar? – cortou Kieran. Parando quase em cima do aprendiz, ele apontou para as árvores, marcadas por feridas recentes e cicatrizes antigas. Razek relanceou os olhos por elas e baixou a cabeça. Seu rosto queimava de vergonha, mas mesmo assim ele tentou dizer algo em seu favor.

- Eu não queria fazer isso. Foi um acidente, como hoje com os blocos. Eu juro!

- Ah, sim! Aquilo foi acidente – retrucou o mago. – E a primeira vez, aqui na floresta, quem sabe. Mas e todas as outras? Vai dizer que também foi acidente? Ou vai admitir que foi um idiota, descontando sua raiva nas árvores porque tem medo de desafiar Lear e Gwyll?

Razek deu um passo atrás, como se houvesse levado uma chicotada. Era a segunda injustiça de Kieran, mas o pior de tudo era estar vindo justamente dele – do homem que admirara e procurara imitar nos últimos quatro anos. Tudo isso para que, no fim, ele o tratasse como um imbecil.

- Não fale assim comigo – disse ele, e se esforçou para sustentar o olhar do mestre. – O senhor não me conhece assim tão bem para saber. Não sou covarde!

- Ah, não? E as árvores? – replicou o outro. – Por que, a cada golpe, você gritava um nome – Gwyll, Lear, até mesmo Tarja? Que tal lutar com um deles? Ou ao menos com alguém que possa se defender?

- Eu lutaria – disse Razek, acalorado. – Lutaria até com o senhor.

- Duvido! Você não passa de um moleque arrogante – provocou o mago. – Destrói as árvores e as flores, mas não enfrenta um oponente de verdade. Agora mesmo – prosseguiu, dando um passo na direção do rapaz. – Eu sei que você está morto de raiva. Então por que não me ataca?

- Se atacar, vou machucar o senhor – disse Razek. Um véu avermelhado lhe cobria os olhos, e através dele Kieran riu, fazendo o sangue borbulhar em suas veias.

- Você, me machucar? Quero ver – zombou, e isso foi a gota d’água.

Com um grito selvagem, Razek atacou.

A energia o percorreu como um raio antes de explodir num jorro pelas mãos. O impacto foi tão grande que o atirou para trás, atordoado, porém já consciente do estrago que poderia ter causado a seu alvo.

Que desta vez não era apenas uma árvore.

- Mmm-Mestre – balbuciou o rapaz, forçando-se a erguer os olhos. Esperava pelo horror – o corpo de Kieran destroçado, ou ao menos ferido, as roupas ensanguentadas – mas não havia horror nenhum, exceto em seu próprio coração. Diante dele estava apenas o mestre, vivo e ileso, tendo nas mãos uma esfera de brilho estranhamente translúcido.

Pura energia mágica.

- Muito bom – disse ele, ainda grave, mas o tom era oposto ao de momentos atrás. – Você é melhor do que eu pensava. É uma arma de guerra.

- Melhor? – Razek piscou enquanto se punha de pé. – O senhor não me achava...

- O que, um moleque estúpido? É mesmo. Tem que ser, para desperdiçar sua força desse jeito – respondeu Kieran.

Suas mãos se moveram, girando a esfera de forma a concentrar o brilho, depois a comprimindo para dissipar a energia. Razek o observava em silêncio. Tinha os braços cruzados e às vezes precisava esfregá-los, pois de repente voltara a sentir frio. Todo o fogo se esvaíra naquele único jato.

- Você percebeu do que é capaz – disse o mago, depois de alguns momentos. – Tornei sua energia visível para que não duvidasse. Mas o caminho que está seguindo não é bom. Isso – apontou para as árvores – é inadmissível. Posso lhe dar uma oportunidade de consertar, mas será a única.

- Claro que sim, mestre – prometeu Razek, ansioso. – Eu faço o que o senhor mandar.

- Ótimo. É assim mesmo que funciona – disse Kieran, com um sorriso torto. – O primeiro passo é contar ao Finn, que certamente fará um sermão. Você vai ouvir cada palavra sem abrir a boca. Depois, vai procurar Rydel ou Sophia, e um deles deve lhe dar instruções sobre a cura das árvores. E eu vou pedir ao Mentor que o oriente em alguns exercícios, algo que o ajude a se equilibrar, porque, rapaz – fez uma pausa, fitando-o com olhos estreitos – se não dosar esse fogo, ele vai queimar tudo e todos, mais cedo ou mais tarde. A começar por você mesmo.

Razek engoliu em seco e assentiu. À sua frente via se desenhar um futuro improvável, reto como uma lâmina, com longas horas de estudo e meditação antes que, por fim, aprendesse a controlar seu próprio poder. Era necessário – agora entendia – mas desalentador. Principalmente comparado aos planos que tinha até uma hora atrás.

- Você parece preocupado. E tem razão. – Kieran continuava a sorrir. – Vai ter muito trabalho para chegar onde quer. E ainda precisa encontrar tempo para o mestre de armas.

Razek arregalou os olhos e o encarou. Essa já era uma história diferente. Suas mãos, crispadas pelo frio, começaram a se aquecer, não com o fogo habitual mas com um calor suave, que se espalhou pelo corpo enquanto Kieran continuava a falar.

- Há uns dias, Gwyll me pediu que incluísse Tarja no grupo de combate. É razoável – disse ele. – Porém mais ainda é manter o equilíbrio do grupo, fazendo vocês começarem ao mesmo tempo. Hoje, com os blocos, eu ia dizer para unirem esforços. Só que você se descontrolou logo no início.

- Feito um imbecil – suspirou Razek.

- Pois é – concordou Kieran. - Mas mesmo assim você e Tarja têm bom potencial. Vão progredir rápido se trabalharem juntos. Isto é, na Magia do Pensamento. O resto é com você.

- A Magia da Alma, não é? Sei disso – afirmou Razek. – Hoje mesmo eu vou...

- Que Magia da Alma! – cortou o mestre. – Estou falando de Tarja. Você e ela vão ficar mais uns três anos aqui em Vrindavahn, enquanto Gwyll vai embora no ano que vem. Quem sabe...?

Ergueu uma sobrancelha, o gesto mais amistoso que o rapaz o vira fazer até então. Era estranho e, de alguma forma, revelador – uma pista, supôs Razek, para o passado que Kieran sempre mantivera em segredo. Talvez ele também perdesse o controle quando era mais jovem. E talvez houvesse outras coisas em comum, afinidades que poderiam aproximá-los ao longo do tempo e torná-los amigos. Talvez...

- Então? Vai ficar aí com esse sorriso tonto? Ou voltamos ao castelo?

A pergunta ríspida o trouxe de volta ao presente. Kieran estava a alguns passos de distância e o esperava, com o ar impaciente de costume. Razek o seguiu sem perguntas. Haveria tempo para elas mais tarde. Por enquanto, bastava a sensação de estar em paz, tendo à frente um futuro promissor e um novo fogo dentro do peito.

Um fogo que, pela primeira vez, aquecia em vez de incendiar.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

O Fogo Interior - Parte 4

- Ei, amigo. Muita energia hoje – disse Gwyll, assim que deixaram a sala. – Pena que você ainda a controle tão mal.

- Isso é problema meu – grunhiu Razek.

- Mas a gente pode ajudar – tornou o outro, com um sorriso que afetava boas intenções. Razek franziu a testa e ia responder quando outra aprendiz se intrometeu entre os dois.

- Podemos sugerir alguns exercícios. – Era Vergena, uma elfa de rosto longo que Mestre Kieran elogiava com freqüência. – Você devia reforçar a prática da concentração. O exercício da nuvem, lembra? Esse é muito bom.

- Mas é do Primeiro Círculo! – protestou Razek.

- E daí? É lá que está a base – replicou a elfa. – Se a base for fraca, tudo o mais irá desmoronar.

- Vá esperando – murmurou Razek. Vergena deu de ombros e passou por ele, tomando a direção da Ala Branca, onde ficavam os dormitórios dos aprendizes. Provavelmente ia pegar sua espada. Razek imaginou que Gwyll seguiria pelo mesmo caminho, por isso ficou surpreso ao vê-lo parar junto à saída principal da Ala Azul. E ainda por cima com Tarja a seu lado! Aquilo não podia ser bom sinal.

- O que está esperando? Temos aula de Matemática – disse, como se Gwyll não estivesse ali.

- Eu sei. Já estou indo. – A voz dela, cheia de expectativa. – Só vamos dar uma palavra com Mestre Kieran.

- Eu quase consegui convencê-lo a aumentar o grupo de combate mágico – informou Gwyll, passando o braço em torno dos ombros de Tarja.

Na mesma hora, as chamas se acenderam dentro de Razek, dessa vez no estômago, fazendo-o enrijecer o corpo e apertar as mãos. Então é assim, pensou, engolindo a saliva como fogo líquido. Era por isso que Tarja andava tão ligada àquele sujeito – ela, com quem há tão pouco tempo ele partilhara seus sonhos mais secretos!

- Razek! Você está estranho! – exclamou a moça, franzindo as sobrancelhas. – Seu rosto está escuro... meio vermelho, sei lá. Está sentindo alguma coisa?

- Nada. Você ainda não sabe? – replicou ele, e recuou esquivando-se à mão estendida. – Eu nunca sinto nada além de frio e calor.

Virou as costas, ignorando as vozes dos dois que o chamavam pelo nome. Seu corpo estava quente com a raiva que vinha de dentro. Se crescesse ainda mais, poderia rebentar, por isso Razek nem cogitou em se meter entre as paredes de uma sala de aulas. Em vez disso, seguiu em frente, rumando para os fundos da ala Azul, que confinavam com a parte mais antiga das muralhas.

Havia um portão ali, normalmente trancado, mas desta vez o jovem deu com ele aberto de par em par. Provavelmente o tinham esquecido assim depois de dar passagem a alguma carroça. Para onde estava indo essa não era a melhor saída, e além disso sua ausência devia ser informada à Escola, mas Razek estava farto de regras: sem olhar para trás, cruzou o portão e desceu a trilha sinuosa que levava à orla da floresta.

O frio era ainda mais intenso entre as árvores. Razek ergueu o capuz do manto e apertou o passo, dirigindo-se ao lugar que elegera para seus exercícios. Era uma clareira num diminuto bosque de carvalhos, um recanto descoberto por acaso ao procurar um ramo para seu bastão de poder. Até onde sabia ninguém mais andava por ali, pois ficava longe das trilhas coloridas, margeadas por plantas medicinais, em que os mestres de Ciências da Terra e Artes da Cura costumavam conduzir os aprendizes. Ao contrário, era um lugar sóbrio, cercado pelas árvores e juncado de pedras arredondadas. O solo era coberto por relva esparsa. Algumas vezes havia também flores brancas, inclusive no inverno, o que Razek sempre achara estranho. Na véspera, ou dois dias antes, ele se lembrava de ter pensado assim ao vê-las. Mas hoje não estavam mais.

Razek se acomodou no chão, entre as raízes de um carvalho. Encostou-se ao tronco nodoso, alinhando vértebra por vértebra enquanto se concentrava na respiração. O objetivo era afastar a raiva, mas, assim que conseguiu relaxar um pouco, a ideia de se superar nos exercícios voltou com toda força à sua mente. Por que não, se estava ali sozinho, sem ninguém que o atrapalhasse nem zombasse ao vê-lo falhar?

Ainda que mínimo, o relaxamento o fizera voltar a sentir as mãos geladas. Razek esfregou uma na outra, olhando em torno à procura de algo em que concentrar sua energia. Árvores e pedras eram grandes demais para que tentasse movê-las, mas – ele sorriu de leve ao se lembrar – talvez não fosse má ideia repetir o exercício sugerido por Vergena. Era coisa de iniciante, mas ajudava na concentração. E Razek fazia aquilo muito bem quando estava no Primeiro Círculo.

Erguendo a cabeça, ele se pôs a contemplar o céu coberto por nuvens finas, quase transparentes. Observou-as por alguns momentos e se decidiu pela maior, de contornos que lembravam um pano esfiapado. O exercício exigia que concentrasse a atenção sobre a nuvem até fazê-la sumir, o que os aprendizes mais novos achavam impossível antes de compreender a natureza mutável da água. Então, para a maioria, tornava-se quase fácil.

Razek apertou os olhos e com eles a imagem da nuvem. Ela ficava mais fina a cada instante, desfazendo-se como um véu esgarçado. Por fim, os últimos fiapos nevoentos se diluíram contra o céu, e o aprendiz se ergueu de um salto, sentindo-se repleto de poder. Seus olhos pousaram numa pedra, uma das menores da clareira, mas ainda assim maior e mais densa do que qualquer objeto que houvesse conseguido deslocar. Era um bom teste para sua recém-adquirida confiança.

- Agora – murmurou para si mesmo. Com um gesto calculado, estendeu a mão, reunindo sua energia antes de focá-la sobre a pedra - e de recuar, frustrado e já furioso, ao perceber que seus esforços tinham sido inúteis.

- Pedra idiota! – exclamou, chutando o solo e arrancando alguns talos de relva. – Por que não obedece? Por quê?

Esmurrou o ar, um movimento que o fez girar e bater com o ombro no tronco do carvalho. O choque foi pequeno, mas doeu, e a reação foi imediata, sob a forma de um grito e uma descarga de pura energia. Atingida, a casca externa do carvalho se rompeu, deixando à mostra uma parte do cerne. Era como uma ferida em carne viva, e quem olhasse para as árvores da clareira veria muitas outras. Mais tarde, quando seu ânimo esfriasse, Razek iria se arrepender, como acontecia todas as vezes, mas por enquanto a raiva continuava a dominá-lo, fazendo-o desferir repetidos golpes contra a árvore.

- Para você, Gwyll! – exclamou, visualizando o rosto dele sobre o tronco e o fendendo de alto a baixo com um talho. – E esse é para você, Lear. Engula esse sorriso imbecil. E você, sua traidora...

- Pare já com isso! – ordenou alguém atrás dele. Razek se voltou com um sobressalto, sentindo um aperto no punho, embora mão alguma o tocasse. A sensação permaneceu quando baixou o braço, mas a pressão relaxou, permitindo que mexesse o pulso e os dedos doloridos.

Então, a poucos passos de distância, viu surgir uma figura de pesadelo.

Um homem alto, de cabelos negros e desgrenhados e olhos como brasas, que marchava furioso em sua direção.

.....

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