segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Do Diário de An(n)a




Do diário de Anna de Bryke, Mestra de Sagas da Escola de Artes Mágicas

Talvez por ter estado muito envolvida com as apresentações no anfiteatro, só hoje me dei conta de que o Castelo vem se esvaziando desde o solstício. As aulas e outras atividades não foram suspensas, mas muitos aprendizes viajam para passar algum tempo com a família – é fácil, porque quase todos são das Terras Férteis , alguns de cidades bem próximas – e os empregados têm direito a uns dias de descanso, um grupo por vez, a fim de que sempre haja alguém para dar conta das tarefas indispensáveis.  Hoje, Lori se viu sozinha para cuidar do desjejum, porque Netta foi com Nils passar uns dias na casa do filho deles; o pão ficou um pouco mais torrado que de hábito e as frutas foram inteiras para a mesa, mas ninguém reclamou. Depois das festas e ritos de solstício, tudo e todos parecem adaptados a um ritmo mais lento.

Não posso dizer que isso me surpreende, pois é o mesmo que acontece na floresta: o inverno é um tempo de recolhimento, de estar dentro de casa com parentes e amigos, de refletir e fazer planos para quando a vida retornar à superfície. Talvez eu estivesse imaginando que seria diferente num lugar como este, sem neve e com pouco frio, apenas uma chuva quase incessante martelando telheiros e janelas. No entanto, aqui também as pessoas se movem mais devagar, procuram mais a companhia umas das outras, aquelas que viajaram certamente estão fazendo o mesmo junto a suas famílias. É o ritmo próprio da estação, um ritmo natural, no fim das contas: afeta a tudo e a todos, não importa se vivemos no Norte ou no Sul, se somos homens, elfos ou mestiços.

Então, em vez de insistir à toa em escrever minhas crônicas, acho que vou me adaptar aos tempos de inverno: comer bastante, visitar meus novos amigos, dormir até mais tarde bem enroscada nos lençóis. No Kieran também, se ele não inventar algum trabalho mágico. E, principalmente, sonhar muito, dormindo ou acordada, pois desses sonhos surgirão as histórias que iremos partilhar quando todos retornarem ao Castelo das Águias.

.......

Como vocês sabem, o Castelo das Águias segue o ritmo das estações do nosso Hemisfério Norte. Lá é inverno, aqui é verão. O ritmo, porém, também fica mais lento por aqui, devido ao calor. E é verdade que, como a Anna, aproveito o final do ano para estar com as pessoas que amo, para reflexão e para planejar o ano que vem.

Espero que você esteja entre os que retornarão, em 2014, para mais um ano no Castelo das Águias.

Até lá! Até breve!

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Horizontes : conto de Júlio Soares (conclusão)

Vergena foi surpreendida por uma carga de energia que passou de raspão pela árvore.
– Nair! Saia da minha floresta! – A voz do velho era horripilante. Vergena tomou fôlego e saiu correndo para a esquerda, lançando cargas e desviando de outras. Quando parou de correr, havia trilhado um arco e estava atrás do xamã, que se virou.
– Nair, por que você duvidou de mim? – Ele chorava, segurando o galho com força.
Então Vergena viu algo incrível: duas águias os sobrevoavam, e pousaram entre ambos, olharam para a elfa e então para o mago. – Ah, minhas crias! Vieram ver Nair? Nair, veja, estes são meus pequenos filhotes, feitos pelos poderes que eu consegui, pelos poderes que você duvidou que eu teria algum dia. Vamos, filhotes, se apresentem! – Os animais ficaram parados. – Vamos! Águias estúpidas, seus espíritos me pertencem! Me obedeçam! – Elas piaram em resposta, e mais cinco águias começaram a sobrevoar acima dos dois. Rapidamente elas começaram a atacar o xamã, que, em resposta, começou a se chacoalhar nervosamente.
– Nair, o que você fez com meus filhotes?!
O velho saiu correndo em direção a Vergena, rápido demais para ela processar a informação. Como um raio, ele elevou uma ponta do bastão, mirando a elfa, que só teve tempo de desviar um pouco para a esquerda. Ela sentiu um calor pulsante no ombro direito. Vergena levou a mão para a frente em resposta, e sentiu quando o seu bastão tocou no peito do velho, que parou num suspiro.
Vergena não sentiu pena. Ficaram parados por um tempo, o silêncio e a escuridão pareciam aumentar e fazer pressão sobre o coração da elfa. Ela se moveu mais para a esquerda, e o xamã continuou estático. Afastou-se e notou uma mancha negra em seu peito, onde o bastão dela tocara uma vez.
Minha floresta... Urin, eu? – Ouviu-o dizer. Logo após, um baque surdo contra a terra. Os braços de Vergena pesavam, e ela se ajoelhou. Olhou para as águias, e as agradeceu mentalmente. Elas voaram em várias direções, deixando a maga sozinha.
– Você fez o certo – disse a voz já conhecida de Doron. Ela olhou para trás e viu o guerreiro se aproximar, ele tinha um ou dois arranhões no braço, mas parecia bem. – Ah, não foi nada demais! Só as aquelas águias fantasmagóricas que me assustaram e atrapalharam um pouco.
Ela assentiu.
– Hora de seguirmos adiante, Vergena. Não estamos longe de Mestyen, e o Sol já vai nascer.
– Não. Antes vou enterrá-lo. Ninguém merece ter o corpo desonrado ou ser apagado do mundo. Não importa quem.
Doron ficou em silencio, mas a ajudou a cavar um buraco. Escreveram em um pedaço de madeira a frase “Urin, aquele que passou das expectativas” e deixaram a floresta.
– Obrigado, Vergena. Você me salvou. Apesar de o chute ter doído, você fez a coisa certa – disse Doron no dia seguinte.
– Não agradeça, estamos quites. Você que deu a ideia do exercício da nuvem, afinal. Aliás, como você sabia dele?
– Dei mesmo! Eu me lembrei de que Kieran vivia treinando isso quando era aprendiz do Mestre Mael – ele sorriu de forma nostálgica.
– Como foi para você? Matar alguém... – perguntou, mais tarde, enquanto Vergena fazia um curativo em seu braço.
– Foi tão... fácil. Na hora não existem pensamentos, sentimentos. Apenas a ação. Eu estava irritada com o que ele falava, sobre possuir a floresta. Mas depois eu me arrependi, pensei que ele poderia ter alguma chance de cura, talvez algum ritual pudesse ajudá-lo...
– Não, Vergena. Não podia. Aquele homem cruzou limites que ninguém pode ultrapassar. E é aquilo que acontece quando desrespeitamos as leis da magia. Além do mais, não sinta pena ou fique se torturando por ele. O que aconteceu, aconteceu. Você o honrou, no final de tudo. Será uma guerreira nobre.
– Você aprendeu isso com o Mestre Mael, também?
– Foi. Por que a surpresa? Não faz muito tempo, eu não sou tão velho a ponto de me esquecer das coisas!
Pela primeira vez desde muito tempo, a elfa sorriu. Levantou-se e viu o céu. Estava sem nuvens, e, olhando para baixo, através das árvores dispersas, ela enxergou o horizonte e todas as suas possibilidades.
             Uma nova aventura estava chegando, e Vergena ficou feliz por não ter que enfrentá-la sozinha.

...

Bom, Pessoas, esta foi a fanfic do Júlio Soares. Espero que tenham curtido tanto quanto eu!

E se alguém mais quiser escrever uma história baseada no universo de Athelgard, fique à vontade. Temos umas regrinhas, que vocês podem consultar na Página de Promoções aqui do blog, mas tudo muito simples. Ah, o envio de fics dá também direito a um prêmio. Acho que vocês vão gostar. 

Até a próxima!

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Horizonte : conto de Júlio Soares (parte 3)


Naquela noite Vergena sonhou com águias guerreiras, belas e altivas. Elas voavam em sua volta, amigas. Em meio ao breu, a elfa notou, estranhamente, uma coruja a observando. O animal era diferente dos demais, e tinha uma carga sinistra.
Acordou assustada, suando. Esfregou os olhos e olhou em volta, foi quando teve um susto. Havia a sua frente três enormes lobos, brancos e assustadores, incomuns. Eles estavam quietos, com a boca aberta e os olhos frios feito a morte. Vergena buscou lentamente o seu bastão, que mantinha sempre do seu lado.
Doron! – sussurrou, mas o homenzarrão dormia sob uma árvore próxima. Famintos, os lobos começaram a andar em direção à elfa.
– Doron, acorde! Estamos sendo atacados! – Dessa vez ela falou alto, correndo para a direita, dando um chute na coxa do grande homem. Este gritou, mas, ao mesmo tempo, pegou uma espada curva, se ajoelhando em seguida. Os três lobos seguiram a elfa, dando de cara com o guerreiro.
– Mas o que é isso? – Doron gritou, apavorado. Um dos animais avançou em direção a ele, mas foi atingido no momento em que pulou por um corte rápido. Estranhamente o lobo não caiu, mas virou uma espécie de névoa. Vergena compreendeu que era um espírito. Havia algum mago por perto.
– Mantenha a atenção! – Ela subiu em uma árvore, com o bastão lançou uma carga energética no outro lobo, que ganiu alto antes de se dissolver em energia. Não teve tempo de atacar o último, sentindo garrafas afiadas tomarem conta de seu ombro direito. Olho para o lado e viu uma águia da mesma aparência que a atacava. Tentou se movimentar, deixando o bastão cair.
– O exercício da nuvem, Vergena! – Doron gritou de baixo, desviando do ataque de mais outros dois lobos que surgiam. Ele agora utilizava duas espadas. Vergena tentou se concentrar, mas a dor era forte demais.
Isso não vai terminar assim! Ela imaginou o galho em que se encontrava sumindo. Após alguns segundos, sentiu-se cair, e a águia levantou voo, piando.
Pegou o bastão e disparou jorros de energia mágica em direção ao céu, porém não acertou a águia. Olhou para Doron, que agora estava completamente cercado. Dois lobos tinham as espadas dele presas em suas bocas, e não soltavam de jeito nenhum. O guerreiro puxava os braços, tentando fazer algum movimento – mas os espíritos eram fortes. Vergena correu em direção a ele e estacou a ponta do bastão no terceiro lobo, que imediatamente sumiu. Ela se ajoelhou e falou algumas palavras mágicas, fazendo uma bola de chamas voar em direção a um dos lobos.
Doron se aproveitou da situação e girou o corpo com toda a força, fazendo o animal soltar sua espada e deixar o seu braço direito livre. Utilizou o movimento e levou a lâmina até o pescoço do outro animal.
– Tem algum mago por aqui, Vergena! Temos que encontrá-lo ou não vamos parar de ser atacados! Eu cuido dos animais, você procura por ele!
Ela assentiu com a cabeça e saiu correndo, concentrando toda a sua energia em sua memória, recitando um feitiço de busca. Ela parou abruptamente, fazendo um pequeno círculo em sua volta e erguendo os braços. Aquele era um ritual simples, mas ela tinha que manter a concentração e, ao mesmo tempo, prestar atenção a sua volta para possíveis ataques. Quando começou a recitar as palavras, um barulho a interrompeu:
– Nair, é você? – disse um velho, saindo das árvores. Ele vestia trapos e não usava sapatos, havia um galho em sua mão esquerda, e várias pulseiras e colares o enfeitavam. Era uma espécie de xamã, pelo que ela percebeu. Mas aquele tipo de magia só podia ser feita por magos treinados e sábios. Aquilo era impossível. Vergena fez uma posição de defesa com o bastão em mãos.
– Nair, você deveria estar na Floresta do Sol, eu te pedi para ficar lá.
– Não sou nenhuma Nair, me chamo Vergena de Thaelke, velho. Quem é você?
Ele ficou em silêncio por um momento, alisando o galho de olhos fechados.
 – Nair... não. Não é Nair... Urin, eu. Minha. Minha... – Suas palavras não faziam sentido para a elfa. – Minha floresta!
Com um movimento rápido, gritou e apontou o galho para Vergena, que instintivamente desviou do feixe energético que se seguiu. Então, fez um movimento com o braço e disparou duas descargas de energia em direção ao velho, que se defendeu com facilidade.
– Você disse que eu não podia aprender, Nair! – exclamou. - Você disse! Mas eu aprendi! Toda a Floresta do Sol me ensinou, menos você! Fiquei amigo dos elfos, mas você dizia que alguém como eu jamais iria ser um mago! Olhe para mim, Nair! Olhe! Eu sou um mago e tenho uma floresta, Nair! Agora você gosta de mim?! – Ele atacava rápido e Vergena mal tinha tempo de se defender. Estava recuando demais, e chegou a cruzar os limites do círculo que havia feito.
Forçou o pensamento para focar a energia na mão esquerda, que estava livre. Quando sentiu esta se esquentar o suficiente, lançou mais três rajadas energéticas no velho, que, pego de surpresa, se atirou no chão.
 Vergena aproveitou para se esconder atrás de uma árvore. Tentava pôr os pensamentos em ordem. Chegou à conclusão de que aquele homem provinha do sul, e, com os elfos da Floresta do Sol, aprendera a arte da Magia. Mas possivelmente não foi disciplinado o suficiente e acabou louco.
Ela olhou para cima, e viu uma águia. Não era uma águia-fantasma, como ela notou de cara. O animal a olhou de cima, e ela fitou seus olhos negros. Lembrou-se do dia que o mestre Kieran passara para ela o poder sobre as águias, e da conexão que ela sentia com tal animal.
Me ajude – sussurrou, não tendo certeza de que a águia a entendera. O animal a observou um pouco e seguiu voo. 

....

A seguir: a conclusão!

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Horizonte : conto de Júlio Soares (parte 2)



– Ei, ei! Calma! Não precisa se encrespar – disse, surgindo do meio das árvores, um homem enorme. Tinha cabelos louros compridos e lisos, o rosto quadrado era coberto por uma barba rala e seus olhos claros irradiavam travessura. O corpo incrivelmente forte estava coberto por uma malha de ferro e tinha uma espada presa à cintura.
– Quem é você e o que faz aqui? – Vergena estava impassível. Tinha a impressão de ter visto aquele homem antes, mas manteve a guarda.
– Eu sou Doron de Scyllix, amigo de Kieran. Estive em Vrindavahn ano passado como representante do Exército, na questão das águias.
– Amigo de Hillias.
– Sim, já fui amigo de Hillias. Mas ele endoideceu, e eu tive de manter minha postura acima disso. Hillias errou em muitas coisas, mas não em te convidar para ser Mestra das Águias. Vi o que fez na torre aquele dia, o rato molhado te ensinou bem.
– E o que faz aqui? As florestas não são caminhos comuns.
– Não, não são não. E, mesmo assim, aqui está você. Gosta de animais, pequena maga?
– Caminhos comuns são tediosos e fáceis demais.
– Eu vi, e, por isso – fez uma tentativa de expressão perversa que resultou numa careta feia – eu resolvi te seguir. A vi em Caer Fair, e, sabendo que iria até Scyllix, resolvi manter os olhos em você. Agora estou aqui.
– E o que fazia no vilarejo?
– Você é muito chata, sabia? Bom, devo confessar... – fez uma pausa, levando a mão a cintura – que eu buscava... isto! – Mostrou uma garrafa escura. – Eis o melhor vinho de toda Athelgard, produzido por uma família de vinicultores muito antiga, isolada no pequeno vilarejo de Caer Fair. Apenas poucos sabem da existência dessa magnífica bebida no mundo, então mantenha-a em segredo.
A elfa ficou embasbacada, totalmente sem reação. Seus braços caíram, e ela fitou o outro com olhar surpreso.
– Você viajou tanto, chegando a cruzar uma floresta inteira, por uma garrafa de vinho?
– É. – Doron sorriu de orelha a orelha.
Por um momento, ela pensou em rir, mas não o fez. Ainda estava chocada.
– Que seja. Agora você pode seguir seu caminho. Não desejo a sua companhia.
– Eu estava certo sobre você ir até Scyllix, né?
– Sim, estava.
– Então temos o mesmo destino. Por onde você vai?
– Estou seguindo até Mestyen.
– Ah, Mestyen! Aquela cidade maravilhosa, cheia de seus bares e mulheres bonitas, jovens moças que sabem o que querem e não têm medo de viver.  – Doron balançava os enormes braços de forma a tentar ser delicado e romântico. – Eu vou com você. Nada melhor que viajar acompanhado, não?
– Não, você não vai. Gosto de viajar sozinha.
– Então eu vou seguir para Mestyen pelo mesmo caminho. Igual a você, acho estradas chatas, a não ser quando existem distrações entre elas.
– Que seja.
Seguiram o mesmo caminho por dias, em completo silêncio. Doron tentava conversar, mas o máximo que Vergena fazia era dar poucas respostas monossilábicas. Chegou um momento em que ela notou que seu silêncio não o cansaria, então desistiu de se incomodar.
– Você sabe que eu posso estar te seguindo apenas para reportar ao conselho de guerra de Scyllix a sua personalidade, para avaliar se você seria uma boa Mestra das Águias ou não, né? – Doron argumentou certa vez.
Vergena estacou. Nunca havia pensado na hipótese. Doron detinha uma posição de certa importância no exército, ele devia ter alguma influência no conselho de guerra. E, visto que Vergena havia sido convidada por Hillias, poderiam ter mandado alguém para segui-la.
O guerreiro começou a rir desesperadamente, chegando a se ajoelhar. – Você viu a sua cara? Era de doer! É claro que não sou nenhum tipo de espião.
Vergena queria matá-lo.
– Mas, falando sério, Vergena, Kieran falou qual seriam suas atribuições em Scyllix?
– Não, na realidade.
– Pois bem, então me deixe contar a história. As águias só são necessárias enquanto houver guerra, certo? Enquanto não houver guerra, não haverá águias, e, sem as águias, não precisaremos de uma mestra para elas.
Aquilo assustou a elfa.
– O que isso significa?
– Nada demais. Apenas dizendo que você não entrará em Scyllix como uma Mestra das Águias logo de cara. Mas fica tranquila, eles vão te pôr num cargo legal até que haja uma guerra – visto que você recebeu o poder sobre as águias. Sem guerra, imagino que você cuidará das defesas mágicas das torres, ou algo do tipo.
A informação era um pouco assustadora para Vergena, mas ela não se deixou abalar.
– Que assim seja, então. Scyllix é meu destino, e serei grande lá, seja cuidando das águias, seja da proteção da cidade.
– É assim que eu gosto. Espere! Aquela coruja é um pouco estranha, não acha?
Apontou para uma árvore. Vergena viu que o animal era realmente estranho. Nunca vira uma coruja tão branca e com aspecto tão assustador. Lançou uma pedra em direção a um galho, para assustar o animal, sua presença não agradava à maga.
– Vamos dormir, já está escurecendo – disse ao guerreiro, que logo concordou.
.....
(Continua...)

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Horizonte : conto de Júlio Soares (Parte 1)



O mundo era infinito.

A jovem elfa Vergena de Thaelke tinha os olhos sobre o horizonte. As luzes do sol se fundiam àquela linha de possibilidades, e as cores dançavam em passos dourados e violetas. Ela fechou os olhos, sentindo a brisa balançar seus cabelos. Era o primeiro dia desde que deixara o Castelo das Águias para seguir seu próprio destino como futura Mestra das Águias. Disseram-lhe para seguir o caminho de barco até Erchedel e, de lá, prosseguir até Scyllix. Mas aquilo seria fácil demais para a maga. O mundo era muito grande e incrível para ela buscar atalhos. Resolveu pegar um rumo através das florestas até Mestyen, de onde enfim pegaria um barco até Erchedel e outro para a cidade dos guerreiros.

No dia anterior, Vergena havia encontrado o seu antigo mestre, Kieran, e sua esposa, Anna de Bryke. Ambos, apesar das diferenças de idade e cultura, faziam um belo casal.

– Vá acompanhada de toda a proteção dos Heróis e do Grande Espírito, Vergena – disse-lhe Anna, carismática.

– Tenho certeza de que será a melhor Mestra das Águias que Athelgard jamais virá a conhecer, Vergena – a voz de Kieran tinha um misto de hesitação e orgulho.

– Agradeço, mestre. Você sempre foi e será o meu maior professor e inspirador. Eu sei que as pessoas desconfiam de mim devido ao fato de Hillias ter me convidado para esse cargo, mas provarei que não sou como ele. Serei, além de Mestra, amiga das águias.

– Eu sei que será, Vergena – respondeu o seu professor. – Você sempre vence as suas lutas.

– Sei que ouviremos muitas histórias sobre você – complementou Anna. – Já está convidada para, um dia, voltar ao Castelo e contá-las você mesma.

– Eu virei sim, muito obrigada.

Agora só tinha como companhia as lembranças e suas provisões. Seguiu caminho pela costa, passando pela Floresta das Águias, para dar uma última olhada nos animais que tanto respeitava e admirava.

– Espero que sejamos bons amigos – disse às aves, antes de seguir pela floresta.

Após quatro dias de viagem, ela encontrou uma pequena vila, que logo viu ser Caer Fair. As casas eram pequenas e ornamentadas com símbolos nas portas. Eram versões primitivas de sigilos de proteção que aprendera a fazer nas aulas do Segundo Círculo. Foi até o mercado para se reabastecer de água e alimentos. A idosa que a atendeu tinha olhos vigilantes:

– É incomum elfos andarem por essas bandas. Principalmente magos.

– Você é observadora, senhora. Aprecio isso.

– Obrigado. Mas você não o é menos que eu, vi que olhava para os símbolos que tenho nas paredes com muita curiosidade.

Era verdade, Vergena estava atenta aos sigilos ali encontrados. Eram vários deles, pintados em tinta branca, aparentemente às pressas.

– Sim, não pude deixar de notar.

– Estes são símbolos da Antiga Sabedoria de meu povo que são utilizados para proteção e expulsão de espíritos malignos. Ultimamente a vila anda sendo atacada por forças desconhecidas. Nós só podemos nos defender e aguardar o Sol voltar pela manhã. – Fez uma pausa. – Pelo que eu vejo, você está seguindo para a floresta. Se me permite um conselho: volte para casa. As sombras guardam poderes obscuros e poderosos demais.

– Como ousa, velha?! Eu sou uma Maga do Círculo Menor, sei muito bem como me cuidar. Agradeço sua preocupação, mas meu caminho é por minha conta. – Havia uma fúria contida em sua fala.

Seguiu viagem por dias, dormindo na relva, banhando-se em riachos e bebendo água da chuva. Arriscava-se pouco a caçar, pois achava os poucos animais que encontrava pequenos e fáceis de capturar. Todos os dias ela parava por algumas horas para treinar seu domínio da Magia da Forma e do Pensamento e artes marciais. Vergena gostava de treinar sempre o básico, aprendido no Primeiro Círculo da Escola de Artes Mágicas, pois acreditava que uma base forte era importante para se tornar uma maga cada vez melhor.

Certo dia, encontrando uma clareira, aproveitou para treinar suas habilidades mágicas. Fez um círculo de proteção para afastar possíveis perigos e sentou-se no centro. Cruzou as pernas e fechou os olhos, tranquilizando a respiração e relaxando os músculos. Quando abriu as pálpebras, focou o olhar no céu, observando as nuvens. Prestou atenção em uma delas, de tamanho médio e formato singular. Lentamente, começou a imaginar a composição dela, sentindo o frio e a umidade de cada partícula da nuvem. Imaginou esta se dissolvendo lentamente, como se fosse limpa por uma borracha. Não demorou muito até que a nuvem sumisse completamente do céu. Voltou então o olhar para uma árvore à sua frente, e, com um pouco mais de esforço, as folhas começaram a cair, grudando em seu cabelo.

– Você é boa, menina. Aquele rato molhado do Kieran iria se orgulhar de ver isso – interrompeu uma voz grossa e irônica. Vergena deu uma cambalhota para trás, pegando a espada curta e seu bastão, atenta e pronta para lançar uma carga energética na direção da voz.

Continua...

E então? Deu para saber quem é o personagem que vai contracenar com a Vergena a partir de agora? Deixem aqui seus palpites - e não deixem de conferir a ilustração exclusiva da Angela Takagui no próximo post!


terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Vergena de Thaelke


No primeiro livro da série, Vergena é uma das aprendizes do Terceiro Círculo, a quem mais se destaca no grupo de combate mágico. Ela dá um bom trabalho a Kieran, usando o estilo élfico de luta - que se caracteriza pela agilidade e rapidez dos ataques - para confundir e cansar o mestre. Sua habilidade no combate e também na Magia chamam a atenção de Hillias, que a convida para assumir o cargo de Mestra das Águias em Scyllix - um arranjo que seria proveitoso para o elfo, mas que acaba sendo endossado por Kieran perante as autoridades do exército. Afinal, Vergena tem todas as qualidades que se esperam de uma Mestra das Águias, bem como uma atitude decidida e um coração leal.

A ligação entre Kieran e Vergena é tão forte que, em dado momento, Anna chega a pensar que há algo mais entre eles do que uma relação de mestre e aprendiz. Com a ida da jovem elfa para Scyllix, o contato permanece como uma orientação a distância, ao mesmo tempo que Vergena tenta se adaptar à vida militar e às pessoas bem diferentes que conhece na Escola de Guerra.

O início disso vocês vão saber a partir do próximo post deste blog. Mas não por mim, e sim por um outro autor, que se inspirou no universo de Athelgard para criar uma história.

Adivinharam? Isso mesmo! Acabei de receber a primeira fanfic do Castelo, escrita pelo Júlio Soares, que fez uma bela resenha do livro e se empolgou com ele. A imagem acima, no traço da maravilhosa Angela Takagui. é um trechinho recortado de uma ilustração maior, feita especialmente para o conto do Júlio e que retrata um outro personagem favorito dos leitores do Castelo.

Quem saberia dizer quem é? Aguardo seus palpites!