sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O Jogo do Equilíbrio: conheça o Leste de Athelgard!


Rrrrrespeitável Público!

Depois de tantas histórias sobre magos e Magia, chegou a vez de falarmos de um artista. Aliás, um "senhor artista": Cyprien de Pwilrie, o mais famoso saltimbanco de Athelgard, autoproclamado "Mestre das Sete Artes".

Cyprien pertence a um arco de histórias diferente do que é protagonizado por Anna e Kieran, mas seus caminhos se encontram em vários momentos. Tomas, o mestre de fantoches da Ala Violeta, é um velho amigo de Cyprien, e os dois se correspondem com regularidade, combinando inclusive um reencontro que se dará alguns anos após os acontecimentos narrados no livro "O Castelo das Águias". Além disso, Kieran e Cyprien terão um amigo em comum, que vocês conhecerão no segundo livro da série do Castelo, "Um Ano e Um Dia".

A aventura narrada em "O Jogo do Equilíbrio" se passa num momento complicado na vida de Cyprien. Viúvo, com um filho pequeno, uma mulher exigente e ciumenta e muitas dívidas, ele terá, literalmente, que fazer malabarismo para dar conta de todos esses problemas e ainda se livrar de um rival.

A história da construção do personagem e a trajetória do livro, desde sua publicação como obra independente até a inclusão na série Contos do Dragão, pode ser conhecida aqui no blog da Editora Draco. Já para adquirir a obra em formato Kindle, é só clicar aqui.

Espero que vocês leiam, que gostem... E depois me digam.

Abraços a todos!

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Entrevista para o site Alcateia


Olá, Pessoas! Tudo bem?

Sei que muita gente já viu, mas não quero deixar de postar aqui a entrevista que gravei para o blog "Alcateia". Numa conversa com a Eddie Van Feu, falo de todos os meus livros, principalmente de O Castelo das Águias, e deixo meu recado para quem está começando a escrever. Ah, e mexo muito as mãos! :)

A entrevista só foi ao ar em agosto, mas a gravação data de abril, durante a I Odisseia de Literatura Fantástica. Eu e a Eddie estávamos hospedadas com a capista do Castelo, a Carol Mylius, também responsável pela gravação. A edição mucho loca foi feita posteriormente pelo Renato Rodrigues. Espero que gostem!

E falando em Odisseia, já soube por um dos organizadores que a do ano que vem será nos dias 12 e 13 de abril. Minha presença está praticamente confirmada, mas o que eu queria mesmo é que tivéssemos um evento nos mesmos moldes aqui no Rio de Janeiro. Será que a gente consegue? Vamos torcer - e, é claro, batalhar para chegar onde queremos.

Até a próxima!

sábado, 22 de setembro de 2012

Talismãs (Breve Epílogo com Ligeiríssimo Spoiler)


A clareira tinha sido limpa e decorada. Estavam no equinócio de outono, por isso não poderiam ter esquecido as frutas e espigas de grãos, mas também havia guirlandas de folhas, algumas com as flores da estação, em homenagem ao casamento. A que seria usada pela noiva era especial, toda florida, embora para isso tivessem precisado de um pouco de magia. Mas, por uma vez, não foi difícil conseguir a colaboração dos colegas do Segundo Círculo. Não era sempre que tinham uma ocasião como a de agora.

Freydis tinha ajudado a tecer a coroa, mas seu presente fora dado mais cedo: uma concha espiralada, semelhante àquela que ela ganhara da menina-foca, embora não tivesse vindo da mesma praia. A oferta fora recebida com carinho, mas permanecia em sua caixinha forrada à espera de ser transportada com outras bagagens para a moradia do casal. Agora, Freydis se juntara ao cortejo composto por boa parte das mulheres e meninas do Castelo, que seguiam a tradição de advertir a jovem prometida sobre o casamento.

- Você não sabe onde está se metendo. É só olhar para aquele homem e a gente sabe que ele não vai deixá-la dormir à noite – dizia Flora, mulher do mestre dos fantoches.

- Vai sim – contestou a cozinheira, Netta. – Ele não vai se importar com ela, e sabe por quê? Porque não vai ter tempo! Às vezes ele nem come, de tão ocupado!

- Deixe disso! Você sabe como ele gosta da sua sopa de lentilha – riu a noiva. Outras mulheres se aproximaram para apontar defeitos em seu futuro marido, algumas carregando nas tintas, mas sua convicção não parecia se abalar. Ela quer ficar com ele, de verdade, pensou Freydis, e no momento seguinte: e acho que ele também quer.

O prometido se aproximava por uma trilha mais estreita, coberta de folhas secas que estalavam sob seus pés descalços. Também ele era seguido por um cortejo, mas neste não havia meninos, só adultos e rapazes crescidos. Iam dizendo todo tipo de bobagens e rindo perdidamente, mas ele mesmo só sorriu uma vez - e o sorriso morreu em seu rosto quando, já a ponto de tomar a futura esposa pela mão, o mestre de Música se intrometeu entre eles, dizendo alguma coisa que o deixou visivelmente com raiva.

Toda a clareira prendeu o fôlego à espera da reação. Freydis, que se separara do grupo das mulheres, estava agora ao lado de Orm, e os dois respiraram aliviados quando a cerimônia seguiu conforme o previsto.

- Pensei que ele ia matar Mestre Urien com as próprias mãos - sussurrou o garoto.

Freydis abafou uma risadinha e voltou sua atenção às palavras do rito. Camdell era o oficiante, ajudado pelo xamã com o olho tatuado, que todos no Castelo acharam estranho durante exatamente um dia. Então se acostumaram e passaram a gostar dele. Vindo de outras terras, o xamã não conhecia as tradições das Terras Férteis, mas passou diligentemente a Camdell o laço para atar as mãos dos prometidos, depois o bolo de fruta, com o qual um após outro tiveram um leve engasgo.

- Viu só? Quem vai morrer, mais tarde, é você - sussurrou Freydis, cutucando o amigo nas costelas. - O bolo deve estar seco. Eu disse para usar a receita que leva vinho.

- Eles nem vão lembrar disso daqui a pouco - sorriu Orm.

Nesse momento, as últimas palavras do ritual eram proferidas, e todos aplaudiram quando o casal trocou um longo beijo. Urien, já a postos num canto da clareira, fez um sinal para os alunos encarregados da música, e a suave melodia de flauta que se ouvira até então foi substituída por uma canção festiva, com letra brincalhona e os sons alegres de gaita e de tamborim. Mestres, aprendizes e convidados começaram a se misturar uns aos outros e a dançar, inclusive - para o espanto de Freydis - os recém-casados, cada qual arrastado por um grupo para o meio de uma roda.

- Pensei que nunca veria isso - a menina apontou. - Ela, sim, é claro. Mas ele?

- Também pensei que nunca veria aquilo - disse Orm, fazendo um sinal na direção dos músicos. Entre vários aprendizes mais velhos, lá estava Andi, tocando e cantando diante de todos. Freydis teve uma exclamação de surpresa, depois sorriu, balançando a cabeça.

- Quem diria! Ele cumpriu a promessa de tocar, afinal!

- Assim como eu, com o bolo - disse Orm, e hesitou alguns momentos antes de prosseguir. - E você? Também vai cumprir sua promessa... e ir embora para conhecer os mares de Athelgard?

Freydis mordeu os lábios e não disse nada. Todo um mundo de possibilidades estava aberto à sua frente, e não queria voltar as costas a nenhuma delas. No entanto, desde que contara a história da menina-foca, o mar voltara a pulsar muito forte em suas veias, e ela fechou os olhos, quase conseguindo responder com certeza à pergunta do amigo.

Mas ainda não. Enquanto fosse tão jovem, tinha muito que aprender ali no Castelo, para que mais tarde essas coisas lhe servissem na vida de emoções e aventuras que esperava viver. Além disso, ainda havia muito para ela, ali mesmo, nos próximos anos: um tempo de semear perguntas e colher experiências.

E, é claro, fazer amigos.

Agora e para sempre, isso valia mais do que qualquer talismã.

....

E aí? Gostaram? Espero que sim, e que esse casamento os deixe curiosos... :)

Para conhecer a história anterior, contada em versos pelo Andi, clique aqui!.

Para concorrer a um exemplar do livro "O Castelo das Águias", não deixe de visitar a nossa Página de Promoções

E fiquem atentos! Em breve, mais novidades chegando por aqui.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Talismãs (Parte 5: A Saga do Bardo Arrependido)


Entre as campinas e as matas,
Reino de vinhas e cascatas
Que alegram corações,
Ergue-se Kalket, a gloriosa,
A celebrada e tão famosa
Cidade das canções.

É lá que a arte se propaga
Dos bardos e mestres de sagas
Que cantam os Heróis.
Tão orgulhosos de espalhar
Por toda a Ilha de Athelgard
Sua música, sua voz.

Nessa cidade, um Conselheiro
De Casa antiga o nobre herdeiro
Uma esposa tomou.
Com flores recobriu as ruas
E todo o povo por três luas
Com ele festejou.

Para prestar sua homenagem
Um bardo fez longa viagem
Por terra, rio e mar.
Filho dos Elfos e dos Homens
Hyldor, o Belo, era seu nome.
E altivo o seu olhar

Eu tinha apenas nove anos.
Era um menino como tantos,
Com sonhos e ilusões.
Queria a glória e o esplendor.
Queria ser como Hyldor,
O mestre das canções.

Fui então vê-lo assim que pude
Com uma saga e um alaúde,
Mas não quis me escutar.
Só a si mesmo ele aprazia.
Sua própria voz o comovia.
Restava-me calar.

Mas – gesto digno de um nobre
Que atira moedas aos pobres –
Pensou melhor depois.
E me levou feito escudeiro
Até o solar do Conselheiro.
Entramos lá os dois.

Que claro céu! Tantas estrelas
Tornavam a festa ainda mais bela,
Mais belos os casais.
Todos dançavam nos jardins
Entre as roseiras e os jasmins,
Estátuas e portais.

Vendo chegar o bardo Hyldor,
A bela dama e o bom senhor
Com graça o receberam.
Deram-lhe vinho às taças cheias,
Iam ouvi-lo após a ceia,
Assim lhe prometeram.

E ele bebeu, comeu, dançou,
Por toda a noite festejou
Sem ter preocupações.
Enquanto eu, com outras crianças,
Ali ficava a ver as danças
E a ouvir novas canções.

Mas de repente em meus ouvidos
Soou um terrível gemido,
Um grito de assustar:
Ao cortejar uma criada,
Hyldor caíra da sacada,
Quebrara um polegar.

Correu um físico a atendê-lo,
E todo o tempo Hyldor o Belo
Ficou a lamentar.
“Vim de tão longe! Que mau fado!
Com o meu punho assim quebrado
Não poderei cantar!”

Porém Althea, a ilustre barda
Com quem eu tinha aulas de harpa
Logo se fez ouvir.
“Cante, Hyldor, não se preocupe!
E que da música se ocupe
O jovem Andi ap Llyr”.

E – adivinhem? – Eu toquei!
Hyldor cantou e o acompanhei
E todos aplaudiram.
Bardos e artistas nos louvaram,
Os senhores a nós brindaram
E as damas nos sorriram.

Mas o melhor veio no fim,
Ou pelo menos para mim,
Vejam vocês se não:
Arrependido do que fez
Ao me ver da primeira vez,
Hyldor pediu perdão.

Diante de todos os convidados,
Ele, uma lenda, um famoso bardo
Que encanta multidões,
Disse: “Esta noite, eu a devo a Andi!
Ouçam o que digo, ele será grande,
O herdeiro das canções.”

...

Um breve instante de silêncio se seguiu às últimas notas do alaúde. Então, como se todos houvessem combinado, irrompeu uma salva de aplausos, e estes aumentaram à medida em que o rosto de Andi enrubescia mais e mais.

- Bom, foi essa a história – disse ele, baixinho. – E o objeto está aqui. É a palheta que Hyldor me deu e que usei para tocar.

- Uma figura e tanto esse Hyldor! – exclamou Conan, com uma risada. – Ainda bem que se arrependeu. Eu faria o mesmo, se visse como você domina um alaúde.

- É verdade, mas me explique uma coisa, Andi – disse Adrael, estreitando os grandes olhos oblíquos. – Você foi lá falar com o bardo que não conhecia, depois tocou diante dos senhores de Kalket numa festa, sem vergonha nenhuma. Como fez isso, se em geral é tão tímido?

- É mesmo, Andi. Até para tocar aqui você relutou – observou uma das meninas mais velhas. – O que aconteceu para ter mudado tanto?

- Nada! Quer dizer, eu... Bom, passei por algumas coisas – confessou Andi, com o rosto em fogo. – Fiquei mais velho, o Dom se manifestou, então... Ah, mestra, por favor. – Ergueu os olhos aflitos para Anna de Bryke. – Eu fiz minha parte, não fiz?

- Claro que fez, e se saiu muito bem – sorriu a Mestra de Sagas. – Não precisa ir adiante se não quiser ou não estiver preparado. Existe até uma fórmula da escola bárdica para isso, alguém conhece?

Louras e morenas, as cabeças se moveram de um lado para o outro. Anna esperou um instante, criando expectativa, depois falou:

- Se alguém insiste em ouvir mais quando você já chegou onde queria chegar, somos ensinados a concluir: “Esta é uma outra história”. Nada mais.

- Que pena! Queria ouvir o Andi tocar de novo – lamentou Orm, sorrindo com malícia para o amigo. – Quem sabe um outro dia, não é?

- Num outro casamento – disse Freydis, passando o braço pelo ombro de um Andi aliviado, mas ainda vermelho.

E como sempre tinha de falar por último, acrescentou, devolvendo o riso de Orm:

- Mas só se nele for servido o seu incrível pão de fruta.

Para conhecer a história anterior, contada pela Freydis, clique aqui!.