Pois é, Pessoas Queridas...
Lá se vão dois meses desde o ponto final. Ou melhor, o primeiro ponto final. Porque, como eu tinha dito antes, a obra nunca deve ser dada como finalizada sem antes passar por revisão e, quase sempre, ser reescrita, ainda que apenas em algumas partes, de preferência depois de o texto ter estado sob outros olhos.
Falo aqui desses anjos/demônios que todo escritor deveria ter e que chamamos de leitores beta. Eles leem a obra em suas primeiras versões, quando geralmente ainda estamos inseguros e cheios de dúvidas – e, quando não estamos, é quase certo que eles arranjem algumas para a gente!
No meu caso, uma leitora fez uma observação sobre o desfecho da história, e as sugestões que deu para melhorar – e as ideias que tive durante e depois da conversa com ela – me levaram a escrever um final alternativo para o livro do Orlando. Não muda o que acontece, exatamente, mas a forma como acontece. Creio que assim vai ficar melhor, mais crível, portanto mais emocionante. E, curiosamente... Resultou em algo muito próximo do que eu imaginava fazer, com relação a esse desfecho, quando a história ainda tomava forma em minha cabeça.
Agora, vocês podem se perguntar: isso significa que você deveria ter ouvido sua intuição? Deveria ter seguido a ideia inicial, e tudo teria dado certo sem precisar de leitor beta? Foi o fato de escrever pensando num público-alvo, e não simplesmente seguir suas entranhas, que te fez tropeçar no finzinho?
Não creio. E direi a razão: é que escritor nenhum é infalível, e cada livro é como uma jornada diferente. Em alguns a gente acerta o caminho de primeira, em outros, não. Tive muita sorte por meus livros e contos publicados sem leitura beta haverem agradado à maioria dos leitores, inclusive aos editores que publicaram os livros independentes. E tive ainda mais sorte por contar com bons leitores beta e críticos nos textos que, sem eles, certamente iriam naufragar.
No caso do Orlando, a intervenção da leitora beta lembrou muito o que acontece com os falcões da história, quando têm o capuz removido. Ela me ajudou a enxergar um problema que, de outra forma, provavelmente não perceberia. Sei que isso não acaba por aqui, ainda faltam outros betas e a leitora crítica, e não é impossível que algum deles fale a favor de deixar o desfecho como estava antes. Mas sei também que, em meio a essas vozes dissonantes, encontrarei a história mais verdadeira, assim como as palavras mais adequadas para contá-la.
E mal posso esperar para partilhá-la com vocês.
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Imagem retirada do "Traité de Fauconnerie'" de H Schlegel e AH Verster de Wulverhorst
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