quarta-feira, 24 de abril de 2013
Diários da Reescrita 2: Mexer com Quem está Quieto
Pessoas Queridas,
Finalmente, estou chegando à reta final do trabalho de reescrita do livro. Bom, pelo menos a primeira reescrita, já que ainda falta a opinião das leitoras-beta sobre metade do texto (incluindo algumas partes muito importantes) e, depois, a do editor e/ou do leitor crítico designado pela Draco. É provável que com base nelas ainda faça modificações, isso é mais do que esperado. Mas tenho certeza de que nada irá se comparar às mudanças que fiz por minha conta nos últimos meses.
Como vocês devem saber - eu falei sobre isso no primeiro post da série - não só minha escrita, mas a própria maneira pela qual eu encaro o trabalho mudou muito desde que produzi a primeira versão, e o que eu tinha escrito já não me agradava, principalmente no que se refere ao relacionamento entre Anna e Kieran. Eu queria conferir mais força e relevo a Anna, mostrar como ela cresceu desde o primeiro livro. Além disso, os acontecimentos que dão o "pontapé inicial" na trama não estavam me convencendo. Justamente por isso, os primeiros capítulos foram os mais difíceis de reescrever. Por outro lado, eu tinha a certeza de que haveria alguns trechos mais fáceis, porque estavam escritos a contento e porque ali a trama, em si, não ia mudar muito. Eu poderia ter mantido vários deles como estavam, páginas e páginas, apenas com uma pequena revisão, mas...
Pois é, foi aí que entrou o inevitável mas. E nesse caso ele teve a ver com o fato de querer fazer todo o possível para tornar o livro gostoso de ler, mesmo que já não estivesse corrigindo problemas e sim apenas aparando arestas.
Em outras palavras, entre aquilo que realmente precisava ser mudado e as cenas já bem trabalhadas havia questões ligadas ao enredo que estavam perfeitamente coerentes e "redondinhas", mas que poderiam melhorar e ficar mais instigantes se eu me dispusesse a ter um pouco de trabalho. O perigo seria demorar demais fazendo isso ou acabar me perdendo em detalhes que, no final, acabariam deixando pontas soltas ou se converteriam simplesmente em excesso (dispensável) de informação.
A solução encontrada foi eleger duas situações-chave - a explicação para o que acontecera no início e a parte que considero o clímax - e fazer delas uma espécie de "desafio de reescrita", no qual buscava a melhor solução e não a mais fácil. Como resultado, os diálogos foram quase inteiramente refeitos, as cenas de ação intensificadas e as explicações dadas de forma a fugir da obviedade. Bom, ao menos eu tentei!
Em meio ao processo, tive um bônus, que a sorte (dizem) costuma conceder aos bardos e mestres de sagas: é que uma situação que eu havia criado no primeiro livro, achando que terminaria ali, acabou servindo como gancho para as mudanças na trama do segundo. Quando consegui perceber isso e reescrever essa parte a história pareceu ganhar novo fôlego - e aí foi questão de reorganizar o roteiro, aglutinar ou dividir capítulos (o caderno-guia é esse aí de cima, mostrando parte da reestruturação) e, por fim, ajeitar os detalhes.
No fim, até os nomes que eu tinha escolhido para certos lugares e personagens foram mudados, assim como o próprio título do livro, embora isso tenha se originado de uma sugestão do editor para que o repensasse. Afinal, como disse uma grande amiga minha, "Um Ano e um Dia" era um título legal, sim, mas só para quem conhecesse a história. E como disse outro amigo para terminar de demolir tudo, lembrava muito os títulos das obras do Nicholas Sparks. :)
E é assim, muitos meses e páginas depois de iniciado o processo, que eu me acho agora. O texto está prestes a ser entregue ao editor, a capista já recebeu informações sobre o trabalho (mais uma vez contaremos com a querida e talentosa Carol Mylius!)e eu me preparo para a etapa final de revisão pós-leitura crítica e para o trabalho envolvido no lançamento e na divulgação. Não posso dizer que a ansiedade se foi, mas acho que a maior parte de minhas escolhas se provará acertada, inclusive a decisão de mexer com o que já estava bom o suficiente.
Sem pretensões, mas também sem falsa modéstia, eu me comprometi a fazer melhor.
.......
Amigos, agora é com vocês. Falem de como anda sua escrita, de como vocês encaram a constatação de que é preciso fazer mudanças, do quanto pensam em seus leitores e/ou no mercado em meio a esse processo. Essas são questões de que pretendo falar em breve. Mas seria legal se alguém já as levantasse aqui.
Aguardo comentários!
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Muito legal o seu relato Ana! A identificação com meu processo de escrita foi imediata. Atualmente estou revisando o segundo livro de Contos de Meigan e, como você, buscando dar meu melhor nele. A reescrita é um processo importante e, confesso, já reescrevi muitas partes ehehe. No entanto, estou tentando deixar o perfeccionismo exagerado de lado, pois em certos casos, apesar da vontade de reescrever, o trecho não precisa daquela mudança.
ResponderExcluirSobre o bônus que você comentou, adoro quando isso acontece. É tão bom ver a trama dos dois livros se interligando de maneiras, às vezes, inesperadas. =)
Bom, adorei saber sobre as novidades do segundo livro de O Castelo das Águias. Estou aguardando a continuação com ansiosidade. E, afinal, qual será o título dela? Fiquei curiosa! ;)
Beijos!
Oi, Ana,
ResponderExcluirGosto dos seus posts sobre o processo de escrita.
Nesses anos todos acompanhando seu trabalho, e vendo como sua própria percepção acerca dele se modificou, amadureceu só posso acreditar que este seu novo livro será ainda melhor que o anterior.
Eu não acreditava como esse processo era mutável até me deparar com as sensíveis transformações que o meu próprio processo de escrita sofreu nos últimos dois anos.
Estou escrevendo meu primeiro romance, e já estou pensando em outros trabalhos futuros ou mesmo nas possíveis continuações (uma trilogia já me passou pela cabeça, mas considerei um devaneio insone, e ponto final.), e vejo no meu cotidiano de escrita como essas mudanças estão influenciando diretamente na qualidade do trabalho.
Desde as etapas iniciais, após o tão maravilhoso aparecimento da ideia, e que nesse caso foi totalmente inesperado, já que eu estava apostando em outra estória, percebi que estava tudo completamente diferente. E ainda está em mutação.
Então, continuo aqui na torcida, e na espera ansiosa por ver esse seu volume nas prateleiras.
Sei que está bom, sei que ficará ainda melhor.
mil beijos,
Vânia
É interessante que a cada novo dia temos um novo olhar!
ResponderExcluirQuando eu estava finalizando O Andarilho das Sombras, mexi, remexi, mudei e desfiz mudanças em vários trechos.
Acho que literatura é algo vivo.
O difícil é saber quando parar!
Agora, no meu segundo livro da série Tempos de Sangue, estou finalizando a "primeira" redação, mas certamente ainda terei muitas idas e vindas.
É isso aí!
Que ótimo esse post! Adoro discutir essas questões de escrita (inclusive o último post do meu blog pessoal foi sobre isso www.mundomel.com.br).
ResponderExcluirEu acho que a coisa mais difícil é essa que você fez: pegar algo que estava bom e tentar fazê-lo melhor. Acho que não podemos ter medo de fazer esse tipo de coisa, não podemos ter medo de nos colocar a prova. No último romance que escrevi, "Metrópole", eu tive que mexer em várias cenas de ação. Foi um suplício, mas no final acho que valeu a pena. O livro ficou mais "colorido" assim e não só um drama sem fim.
Acho que ouvir sugestões de leitores-beta é importante. Eu tenho duas e sempre pondero o que elas dizem. Muitas vezes, não é fácil ouvir algumas críticas, mas temos que ter discernimento o suficiente para julgar se aquela crítica é realmente pertinente ou se não tem nada a ver. Não é algo fácil perceber isso, mas pode fazer toda a diferença!
Mas eu acho que é sempre especial terminar essa primeira reescrita. Dá uma sensação de alívio...
É isso.
bjs!
Bom, Ana,você sabe que estou reescrevendo meu segundo livro. Apesar de parecer que não, eu reescrevi o primeiro também, mudei tudo (era bem engraçada a primeira versão, um dramalhão mexicano!), mas mesmo assim o primeiro ainda merecia uma terceira reescrita, agora que acredito que eu poderia dar a ele uma escrita mais madura, ou algumas cenas mais maduras, talvez.
ResponderExcluirEu acho um processo muito necessário, mas é difícil e eu me pego constantemente com medo de me "perder" na reescrita. Ainda mais porque vira e mexe tenho que dar uma longa pausa nela, então sempre acabo esquecendo informações, tenho que voltar, reler...
O que sei é que seus conselhos me ajudaram muito, e eu realmente sinto que minha escrita, com isso, está melhorando, devagarinho, o que me dá muita alegria. Esse é um exercício muito bom para que tenhamos mais consciência do que escrevemos e dos nossos próprios exageros e vícios. Estou aprendendo bastante ao reescrever!