Naquela
noite Vergena sonhou com águias guerreiras, belas e altivas. Elas voavam em sua
volta, amigas. Em meio ao breu, a elfa notou, estranhamente, uma coruja a
observando. O animal era diferente dos demais, e tinha uma carga sinistra.
Acordou
assustada, suando. Esfregou os olhos e olhou em volta, foi quando teve um
susto. Havia a sua frente três enormes lobos, brancos e assustadores, incomuns.
Eles estavam quietos, com a boca aberta e os olhos frios feito a morte. Vergena
buscou lentamente o seu bastão, que mantinha sempre do seu lado.
–
Doron! – sussurrou, mas o homenzarrão
dormia sob uma árvore próxima. Famintos, os lobos começaram a andar em direção à
elfa.
–
Doron, acorde! Estamos sendo atacados! – Dessa vez ela falou alto, correndo
para a direita, dando um chute na coxa do grande homem. Este gritou, mas, ao
mesmo tempo, pegou uma espada curva, se ajoelhando em seguida. Os três lobos
seguiram a elfa, dando de cara com o guerreiro.
–
Mas o que é isso? – Doron gritou, apavorado. Um dos animais avançou em direção
a ele, mas foi atingido no momento em que pulou por um corte rápido.
Estranhamente o lobo não caiu, mas virou uma espécie de névoa. Vergena
compreendeu que era um espírito. Havia algum mago por perto.
–
Mantenha a atenção! – Ela subiu em uma árvore, com o bastão lançou uma carga
energética no outro lobo, que ganiu alto antes de se dissolver em energia. Não
teve tempo de atacar o último, sentindo garrafas afiadas tomarem conta de seu ombro
direito. Olho para o lado e viu uma águia da mesma aparência que a atacava.
Tentou se movimentar, deixando o bastão cair.
–
O exercício da nuvem, Vergena! – Doron gritou de baixo, desviando do ataque de
mais outros dois lobos que surgiam. Ele agora utilizava duas espadas. Vergena
tentou se concentrar, mas a dor era forte demais.
Isso não vai terminar
assim! Ela imaginou o galho em que se encontrava sumindo.
Após alguns segundos, sentiu-se cair, e a águia levantou voo, piando.
Pegou
o bastão e disparou jorros de energia mágica em direção ao céu, porém não
acertou a águia. Olhou para Doron, que agora estava completamente cercado. Dois
lobos tinham as espadas dele presas em suas bocas, e não soltavam de jeito
nenhum. O guerreiro puxava os braços, tentando fazer algum movimento – mas os
espíritos eram fortes. Vergena correu em direção a ele e estacou a ponta do
bastão no terceiro lobo, que imediatamente sumiu. Ela se ajoelhou e falou
algumas palavras mágicas, fazendo uma bola de chamas voar em direção a um dos
lobos.
Doron
se aproveitou da situação e girou o corpo com toda a força, fazendo o animal
soltar sua espada e deixar o seu braço direito livre. Utilizou o movimento e
levou a lâmina até o pescoço do outro animal.
–
Tem algum mago por aqui, Vergena! Temos que encontrá-lo ou não vamos parar de
ser atacados! Eu cuido dos animais, você procura por ele!
Ela
assentiu com a cabeça e saiu correndo, concentrando toda a sua energia em sua
memória, recitando um feitiço de busca. Ela parou abruptamente, fazendo um
pequeno círculo em sua volta e erguendo os braços. Aquele era um ritual
simples, mas ela tinha que manter a concentração e, ao mesmo tempo, prestar
atenção a sua volta para possíveis ataques. Quando começou a recitar as
palavras, um barulho a interrompeu:
–
Nair, é você? – disse um velho, saindo das árvores. Ele vestia trapos e não
usava sapatos, havia um galho em sua mão esquerda, e várias pulseiras e colares
o enfeitavam. Era uma espécie de xamã, pelo que ela percebeu. Mas aquele tipo
de magia só podia ser feita por magos treinados e sábios. Aquilo era
impossível. Vergena fez uma posição de defesa com o bastão em mãos.
–
Nair, você deveria estar na Floresta do Sol, eu te pedi para ficar lá.
–
Não sou nenhuma Nair, me chamo Vergena de Thaelke, velho. Quem é você?
Ele
ficou em silêncio por um momento, alisando o galho de olhos fechados.
– Nair... não. Não é Nair... Urin, eu. Minha.
Minha... – Suas palavras não faziam sentido para a elfa. – Minha floresta!
Com
um movimento rápido, gritou e apontou o galho para Vergena, que instintivamente
desviou do feixe energético que se seguiu. Então, fez um movimento com o braço
e disparou duas descargas de energia em direção ao velho, que se defendeu com
facilidade.
–
Você disse que eu não podia aprender, Nair! – exclamou. - Você disse! Mas eu
aprendi! Toda a Floresta do Sol me ensinou, menos você! Fiquei amigo dos elfos,
mas você dizia que alguém como eu jamais iria ser um mago! Olhe para mim, Nair!
Olhe! Eu sou um mago e tenho uma floresta, Nair! Agora você gosta de mim?! –
Ele atacava rápido e Vergena mal tinha tempo de se defender. Estava recuando
demais, e chegou a cruzar os limites do círculo que havia feito.
Forçou
o pensamento para focar a energia na mão esquerda, que estava livre. Quando
sentiu esta se esquentar o suficiente, lançou mais três rajadas energéticas no
velho, que, pego de surpresa, se atirou no chão.
Vergena aproveitou para se esconder atrás de
uma árvore. Tentava pôr os pensamentos em ordem. Chegou à conclusão de que
aquele homem provinha do sul, e, com os elfos da Floresta do Sol, aprendera a
arte da Magia. Mas possivelmente não foi disciplinado o suficiente e acabou
louco.
Ela
olhou para cima, e viu uma águia. Não era uma águia-fantasma, como ela notou de
cara. O animal a olhou de cima, e ela fitou seus olhos negros. Lembrou-se do
dia que o mestre Kieran passara para ela o poder sobre as águias, e da conexão
que ela sentia com tal animal.
–
Me ajude – sussurrou, não tendo
certeza de que a águia a entendera. O animal a observou um pouco e seguiu voo.
....
A seguir: a conclusão!
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