sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Horizontes : conto de Júlio Soares (conclusão)

Vergena foi surpreendida por uma carga de energia que passou de raspão pela árvore.
– Nair! Saia da minha floresta! – A voz do velho era horripilante. Vergena tomou fôlego e saiu correndo para a esquerda, lançando cargas e desviando de outras. Quando parou de correr, havia trilhado um arco e estava atrás do xamã, que se virou.
– Nair, por que você duvidou de mim? – Ele chorava, segurando o galho com força.
Então Vergena viu algo incrível: duas águias os sobrevoavam, e pousaram entre ambos, olharam para a elfa e então para o mago. – Ah, minhas crias! Vieram ver Nair? Nair, veja, estes são meus pequenos filhotes, feitos pelos poderes que eu consegui, pelos poderes que você duvidou que eu teria algum dia. Vamos, filhotes, se apresentem! – Os animais ficaram parados. – Vamos! Águias estúpidas, seus espíritos me pertencem! Me obedeçam! – Elas piaram em resposta, e mais cinco águias começaram a sobrevoar acima dos dois. Rapidamente elas começaram a atacar o xamã, que, em resposta, começou a se chacoalhar nervosamente.
– Nair, o que você fez com meus filhotes?!
O velho saiu correndo em direção a Vergena, rápido demais para ela processar a informação. Como um raio, ele elevou uma ponta do bastão, mirando a elfa, que só teve tempo de desviar um pouco para a esquerda. Ela sentiu um calor pulsante no ombro direito. Vergena levou a mão para a frente em resposta, e sentiu quando o seu bastão tocou no peito do velho, que parou num suspiro.
Vergena não sentiu pena. Ficaram parados por um tempo, o silêncio e a escuridão pareciam aumentar e fazer pressão sobre o coração da elfa. Ela se moveu mais para a esquerda, e o xamã continuou estático. Afastou-se e notou uma mancha negra em seu peito, onde o bastão dela tocara uma vez.
Minha floresta... Urin, eu? – Ouviu-o dizer. Logo após, um baque surdo contra a terra. Os braços de Vergena pesavam, e ela se ajoelhou. Olhou para as águias, e as agradeceu mentalmente. Elas voaram em várias direções, deixando a maga sozinha.
– Você fez o certo – disse a voz já conhecida de Doron. Ela olhou para trás e viu o guerreiro se aproximar, ele tinha um ou dois arranhões no braço, mas parecia bem. – Ah, não foi nada demais! Só as aquelas águias fantasmagóricas que me assustaram e atrapalharam um pouco.
Ela assentiu.
– Hora de seguirmos adiante, Vergena. Não estamos longe de Mestyen, e o Sol já vai nascer.
– Não. Antes vou enterrá-lo. Ninguém merece ter o corpo desonrado ou ser apagado do mundo. Não importa quem.
Doron ficou em silencio, mas a ajudou a cavar um buraco. Escreveram em um pedaço de madeira a frase “Urin, aquele que passou das expectativas” e deixaram a floresta.
– Obrigado, Vergena. Você me salvou. Apesar de o chute ter doído, você fez a coisa certa – disse Doron no dia seguinte.
– Não agradeça, estamos quites. Você que deu a ideia do exercício da nuvem, afinal. Aliás, como você sabia dele?
– Dei mesmo! Eu me lembrei de que Kieran vivia treinando isso quando era aprendiz do Mestre Mael – ele sorriu de forma nostálgica.
– Como foi para você? Matar alguém... – perguntou, mais tarde, enquanto Vergena fazia um curativo em seu braço.
– Foi tão... fácil. Na hora não existem pensamentos, sentimentos. Apenas a ação. Eu estava irritada com o que ele falava, sobre possuir a floresta. Mas depois eu me arrependi, pensei que ele poderia ter alguma chance de cura, talvez algum ritual pudesse ajudá-lo...
– Não, Vergena. Não podia. Aquele homem cruzou limites que ninguém pode ultrapassar. E é aquilo que acontece quando desrespeitamos as leis da magia. Além do mais, não sinta pena ou fique se torturando por ele. O que aconteceu, aconteceu. Você o honrou, no final de tudo. Será uma guerreira nobre.
– Você aprendeu isso com o Mestre Mael, também?
– Foi. Por que a surpresa? Não faz muito tempo, eu não sou tão velho a ponto de me esquecer das coisas!
Pela primeira vez desde muito tempo, a elfa sorriu. Levantou-se e viu o céu. Estava sem nuvens, e, olhando para baixo, através das árvores dispersas, ela enxergou o horizonte e todas as suas possibilidades.
             Uma nova aventura estava chegando, e Vergena ficou feliz por não ter que enfrentá-la sozinha.

...

Bom, Pessoas, esta foi a fanfic do Júlio Soares. Espero que tenham curtido tanto quanto eu!

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Até a próxima!

Um comentário:

  1. Adorei o conto, Ana!! Parabéns a você, ao Júlio e à Angela! "Dorena" forever!

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