Os olhos de Zendak se
desfocaram, permitindo-lhe enxergar dimensões ocultas, invisíveis para um corvo
comum. Em todas as florestas havia vibrações sutis, resquícios deixados pelos viajantes,
trilhas secretas que levavam ao mundo dos espíritos, mas a Floresta Mágica superava
a todas elas. Ele se concentrou, sentindo a energia nas linhas fosforescentes,
entrecruzadas, para tentar achar o rastro do pequeno unicórnio. Kemi, enquanto
isso, mantinha a visão de coruja, com a qual poderia divisar até mesmo um roedor
oculto entre talos de grama. Seus olhos sérios, severos, escrutinaram cada
polegada da floresta que ela sobrevoava, lugares onde Vivani poderia ter estado
numa viagem de sonho, mas que não visitara nos últimos dias, quando estivera
sob a forma de raposa. Por fim, depois de ter se enganado com um filhote de cervo
e quase dado um alarme falso, ela vislumbrou a espiral reluzente do chifre – ao
mesmo tempo que Zendak, que parecia estar seguindo uma das trilhas ocultas,
batia as asas com força e crocitava para chamar sua atenção.
Pelo poder do Grande
Espírito do Mundo, tinham chegado antes dos caçadores.
O unicórnio estava
dormindo, deitado sobre um lado do corpo, a cabeça apoiada sobre uma pedra
chata, pouco acima do chão. Quando os xamãs se aproximaram, ele agitou um pouco
as patas, o corpo esguio e dourado estremecendo como se estivesse em meio a um
pesadelo. Eles aterrissaram sem ruído, a pouca distância, e esperaram que sua
transformação se completasse, voltando a seus corpos de elfo antes de começar a
discutir os próximos passos.
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Ilustração: "Dreaming of the Before Times", de Azdra, encontrado em pesquisa na rede.
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